OPINIÃO 126 - Sobre a responsabilidade de ser escritor

SOBRE A RESPONSABILIDADE DE SER ESCRITOR
Leandro de Araújo

    Após o nosso querido “Blá!” atingir os mais de 70 mil acessos, pensei em algum tema para um texto que celebrasse este número tão significativo para mim. E foi nas redes sociais onde encontrei, talvez, o motivo não só para falar com vocês neste momento, como também uma possível razão para insistir neste espaço de fala. Vamos lá!

    Dia destes me impressionei com o comentário em uma rede social, em um grupo dedicado à Literatura, quando um membro disse que compreendia Monteiro Lobato ter usado expressões como "nega beiçuda" e "negra de estimação" em seus textos. Entre os argumentos desta pessoa estavam o fato de se tratar “de outros tempos” e de Lobato não ter exatamente culpa, pois estava apenas retratando uma pessoa de uma época diferente.

    Tantas reflexões me trouxeram este depoimento, principalmente vindo de alguém que se declara “amante da literatura” (nome do grupo), mas principalmente gostaria de falar sobre o papel de quem leva da sua mente para o papel seres e fatos que, na verdade, não existem realmente.

    O escritor não narra fatos. Esse papel é do jornalista. Também não "descreve" personagens. Ele os cria. Quando nós, escritores, dedicamos a dar vida a personagens e desenvolver suas narrativas, estamos assumindo uma posição quase divina, pois temos nas mãos a oportunidade de definir origens e destinos de seres cuja existência se restringe a um mundo delimitado pela nossa criatividade. E é assim mesmo quando o texto é "baseado em fatos", pois a presença do autor é sempre visível na narrativa. Ele está lá com sua história, seus conhecimentos prévios, sua cultura e sua ideologia.

    Há uma responsabilidade em se criar vidas, mundos e histórias através de textos, sejam eles contos, romances ou poemas épicos. Como leitores, as vezes, não pensamos sobre isso, pois conseguimos consumir estas narrativas quase como reais. Nos tornamos amigos dos personagens, nos compadecemos com suas dores e nos indignamos com as injustiças que sofrem. E é exatamente sobre esta responsabilidade que estou falando, a de não normalizarmos, como autores, preconceitos de qualquer espécie. Podemos até citá-los em nossas histórias, usá-los como elementos narrativos, mas não podemos tratá-los como uma normalidade aceitável, uma necessidade social, seja em que circunstância for. Podemos mostrar o sofrimento pelo qual o ser humano pode passar, mesmo quando causado por sua própria espécie, mas não devemos compará-lo com a contemporaneidade usando similaridades, pois as circunstâncias serão diferentes sempre.

    É maravilhoso escrever. Transformar sonhos, fantasias ou, mesmo, a criatividade, em uma realidade que existe fora do universo palpável que nos rodeia, traz um prazer difícil de mensurar. É como se a possibilidade de colocar em prática a divindade que mora em nós nos permitisse ir além do que somos neste plano do qual fazemos parte. Ou mesmo abrir as portas deste plano, que está apenas em nós, para outras pessoas entrarem, se enxergarem ou, simplesmente, fugirem desesperadamente.



........................................................


Me segue no Instagram: @leandrodearaujopoesia e @aquecimentocenico

E no Twitter: @Le_Aquecimento e @poesiagaucha


E minha galeria no Flickr

Adquira o livro aqui

Comentários