POESIA 076 - Elegia à mulher gaúcha

ELEGIA À MULHER GAÚCHA
Leandro de Araújo

Com verbo nasce na tela
Por um poeta desta terra.
Sorriso largo, olhar de índia,
A mais linda joia do pago!
Com flor no cabelo e trança
E um olhar de criança
Emoldurado no quadro.


Com rimas em vez de cores,
Uma gaúcha orgulhosa
Na moldura da janela.
Um verde mate cevado,
Uma aura de paquera,
Um sorriso que é de espera
Pro seu gaúcho montado.

Uma prenda, essa gaúcha
Presa em verso e papel.
Não nasceu do ventre fértil
Mas da tinta predileta
Que compõe a sua cena
Pela rija e riste pena
Das mãos daquele poeta.

O belo traço da pena
Não traz em versos e rimas
Além daquilo que vemos
Por trás daquele sorriso.
Sequer um traço de dor.
Tudo retrata o amor
Num campo de paraíso.

Porém, fora deste retrato
Para ser prenda e gaúcha,
A História rimou sofrer.
À pena de ferro, um Monarca
Desenhou o seu destino.
Com a bênção do Divino
Desposou-a na menarca.

Noivo, o gaúcho centauro,
Só conheceu no casório.
Não escolheu por amor
Qual pintam belos poemas.
Casou por ser parideira!
Filho após filho diz o contrato
Sem cor e sem rima no próprio relato,
Apenas, no mas, povoar a fronteira.

Fronteira riscada na tela do tempo
Com tinta de guerra e sangue de estupro,
Cor escarlate escondida dos versos.
Por trás das rimas a prenda bonita
Cativa das guerras que o macho travou
Uma dúzia de filhos para ele pariu
Sem ser consultada assim assistiu
Ao novo mundo que a história pintou.

Um mundo de heróis e de suas medalhas
De estátuas de bronze e épicos versos
De generais e centauros e lanças em riste.
De poetas, poemas e suas imagens.
Fabricam poesia e criam a lenda
Do bravo gaúcho, que veio montado,
E encontrou um sorriso e o mate cevado
Da servil criatura chamada de prenda.

Prenda, imperativo do verbo prender.
Mulher e gaúcha, em amargo pretérito,
Da janela um sorriso e a flor no cabelo
Recebeu seu gaúcho naquele poema.
Menina casaram num mero contrato
Não mais que servir e povoar esta terra
Em vez de uma joia, arma de guerra,
Que as rimas escondem daquele retrato.





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Comentários

  1. Não apenas um poeta, mas um historiador com alma e visão da formação dos nossos pagos. Parabéns e obrigada por mais essa jóia na nossa literatura

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