OPINIÃO 124 - Joventino e Zé Leôncio

 
    JOVENTINO E ZÉ LEÔNCIO

    - Me desculpa, fio.
    - Não aceito sua desculpa, pai. Por que eu que devia te pedir desculpa. Sei que não sou o filho que o senhor esperava...
    - Ocê é muito mais que um pai como eu podia esperar...Eu que não sou o pai que ocê merece.
    - É o pai que eu preciso.

    O diálogo de Joventino e seu pai José Leôncio na novela Pantanal é extremamente importante. É uma mostra do quanto o respeito deveria se sobrepor ao temor.

    Fui criado em uma época em que os pais não pediam desculpas, não agradeciam e nem pediam favor aos filhos, porque todas essas eram obrigações que devíamos a eles, principalmente por serem "quem coloca comida na mesa". Não que a Globo seja essa maravilha toda, mas no caso das suas produções dramáticas atuais (algumas novelas, as séries e filmes) estão indo muito bem quando trata de assuntos como estes. Talvez por isso essa insistência na direita conservadora em demonizar estas produções. Aceitar que um pai peça desculpas, reconheça que erra, é muito complicado para quem prega a ideia paternalista que diz que o pai é a cabeça da família, o provedor e o bastião moral. Mesmo que tenha cometido barbaridades avalizadas por esta paternidade.

    Conheço muitos destes que pregam hoje o "globolixo" para proteger suas famílias da destruição familiar promovida pela mídia pecadora, mas que traíam suas esposas sem perder oportunidade. É a falsa moralidade do machão brasileiro que agora, broxa, quer proteger a família tradicional daquilo que pode pôr em risco uma moralidade que nunca cumpriu.

    Quanto à novela, ver um pai pedir desculpas a um filho, assumindo que não é o dono da razão e da verdade, é um exemplo máximo de humildade e respeito. É reconhecer, entre outras coisas, que ter colocado a comida na mesa jamais foi suficiente para ser um pai irrepreensível. É admitir que pode aprender com o filho tanto quanto o filho pode aprender com ele. Talvez até mais. É entender que ser pai não é o mesmo que ter autoridade, mas que se deve tanto respeito quanto se exige.

    Que possamos, como pais, entender que o filhos são a chance que a vida nos dá de sermos melhores que nossos pais foram conosco. Eles não nasceram para nos temer, mas para nos ensinar. Assim como acontece com Joventino e Zé Leôncio.


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