Bater nos teus filhos não vai fazer com que eles sejam adultos melhores, mas vai fazer com que eles batam nos teus netos e achem que estão agindo bem. Tu vais te sentir mal com isso e, pode acreditar, serás um dos responsáveis.
Teu filho não
vai deixar de cometer erros por ter apanhado quando criança, mas vai saber que
tem de fazê-lo às escondidas. Com isso, vai procurar estar próximo de pessoas
que agem como ele, pois vai encontrar empatia naqueles que, em vez de conversar
sobre consequências, também se escondem para se proteger delas. Os adultos
sempre sabem que estão cometendo erros, mas o fazem porque se sentem amparados
pela possibilidade de não ser responsabilizados. É a raiz do crime, da
corrupção e do vício. Não é a certeza da impunidade, mas a de não ser
descoberto.
Se tu te
lembras de apanhar quando criança e achas que isso te fez um adulto melhor,
acredita, não fez. Tu és uma pessoa correta que conseguiste superar o trauma da
violência. És um privilegiado por isso. Em muitos casos, crianças que sofriam
violência dos pais se tornam adultos com problemas emocionais, mesmo que não
admitam isso. Também, sobre lembrares das vezes em que apanhou quando ainda era
jovem, é o fato de que teus pais estavam errados, pois o que agride pensa que o
ato de violência será esquecido e substituído pelo “aprendizado”. Não será. Na
verdade, aquele que bate até pode esquecer, pois acredita estar procedendo bem,
mas o que sofre a violência à carrega consigo por muito tempo, às vezes, tempo
demais.
Não paramos
para pensar nisso, mas a surra ou o “bater” em uma criança é submeter alguém a
um castigo físico análogo a tortura, onde alguém em condição física e de
autoridade muito superior, submete outro que não tem a menor possibilidade de
se defender à punição. A criança, com isto, não vai desenvolver respeito, mas
medo. E a diferença entre o respeito e o medo, é que o primeiro permanece,
enquanto o segundo desaparece quando aquele que sofre o castigo se acha em
condições de responder à altura.
Eu apanhei muito quando criança. Hoje, pai, luto diariamente para não cometer os mesmos erros, a mesma violência. Acreditem, é difícil! Muito difícil! Porque trago comigo o castigo físico como uma marca permanente, difícil de ser apagada. Toda vez que ergo a mão ou a voz (a voz também pode ser uma violência) lembro das vezes em que passei pelo mesmo, e da sensação de estar do outro lado. E me odeio por isso.
Quando meus filhos forem adultos, espero que carreguem lembranças dentro de si, não cicatrizes.
Grande lê... pra mim tu és exemplo de pai e incrivelmente falou tudo em poucas palavras tambm creio nisso ebtu tens toda razão
ResponderExcluirMuito obrigado pelo carinho e por compreender todo sentimento que há por trás deste texto. Um abração!!!
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