POESIA 011 - “Voluntário”


"VOLUNTÁRIO"
Leandro de Araújo


Por ter vergonha na cara,
Está escrito no livro.
Para honrar a cor do lenço
E da pátria que me há parido.
Por rebeldia ou decência,
O amor à minha querência,
Porque não nascera bandido.

Por Deus, que certamente
Está do lado dos justos.
Pela lei e pela ordem,
A liberdade do igual,
O respeito à autoridade,
Manutenção e equidade
Da família tradicional.

Para que haja um futuro
Àqueles que vêm depois.
Zelar pelo irmão de armas
E o torrão Brasil paritário!
Pelo que monta ou que é montado,
O status quo assim ordenado,
Me batizaram: VOLUNTÁRIO.

A palavra neste livro
Grifada em tinta amarela,
Ornamenta um museu
Vestindo algum manequim.
Está na estátua da praça
Na rua em que povo passa,
Só nunca que esteve em mim.

Não era vergonha na cara,
Conforme disse o escritor.
Vergonha da changa escassa
Pra quem não tem sobrenome.
Vergonha da judiaria
Da morte rondando as crias
Pela doença e a fome.

Quem me dera a cor de um lenço
Me apontasse os caminhos.
Que o cheiro podre do sangue
Enchesse o prato dos piás!
Se assim o Império mandava,
O patrão determinava,
E o peão peleava “no más”.

Por rebeldia disseram.
Rebeldia contra quem?
O estancieiro assustado,
Mas coronel em sua terra,
Recrutou a peonada
Que quieta não disse nada,
E poupou o filho da guerra.

O cabresto fez-se vontade
Àquele que não a tinha.
O peão morre de tiro,
De fome, doença, frio...
- Pega tua arma, soldado!
Jamais será um derrotado
Quem morre pelo Brasil!

Passou-se século e meio
Do recrutamento forçado.
Peão, negro, mendigo,
Molambo, caboclo, cigano.
Proscritos da mesma sorte
No Paraguai o rumo da morte.
Voluntários por engano!

Outras guerras vieram.
Com “voluntários” também.
Tal e qual marionetes
Dançando em cordas de horror.
Em cada dez morre quatro
Encenando o triste teatro,
Patriotas à maneador.

E os Voluntários da Pátria
Seguem na linha de frente,
Engrossando as fileiras
De generais sem batalhas
Que entre os muros do quartel
Fazem guerras de papel
Transformam morte em medalhas.

Fui Voluntário da Pátria
Sem nunca querer ter sido.
Em vez de ser brasileiro,
Fui um dedo no gatilho.
E a pátria no seu passado,
Na vida bradou “Soldado!”,
No livro grafou “Meu Filho!”.








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