Eu não
gosto de cebola na maionese! - Para quem
não é do Sul, estou falando daquela salada de batatas com maionese, que aqui chamamos apenas
de "salada de maionese". – Simplesmente não combina! A suavidade da batata e
a cremosidade da maionese para mim acaba sendo envenenada com o gosto forte e a
rigidez da cebola. Respeito quem gosta e quem põe em sua receita, mas peço, por
gentileza, que quando fizer uma maionese com cebola, que reserve separado um
pouco sem este tempero para mim, obrigado.
Quando mais
jovem eu até havia feito uma teoria sobre a cebola na maionese que dizia o
seguinte: Se o cozinheiro colocar cebola
na maionese, só quem gosta dela na salada vai comer. Se ele não colocar, todos vão comer. Simples assim...
Contudo, eu
não desprezo totalmente o vegetal malcheiroso. Gosto de usar para temperar
carne, por exemplo. Frito até que quase desapareça, mas uso. Em ensopados
também costumo utilizar. Mas na salada de maionese, ou em qualquer outra salada
onde ele apareça cru, nem pensar.
Todavia, fico imaginando que grande besta eu seria se
ficasse simplesmente desejando o fim da cebola. Óbvio, seria
cômodo, porque não precisaria mais me preocupar com ela aparecendo de surpresa
e estragando alguma deliciosa maionese. Mas também seria um desejo egoísta,
pois não levaria em consideração todas as pessoas que gostam de cebola. Não
deixaria de ser, também, uma forma de reprimir a criatividade, uma vez que fico
pensando em quantos temperos diferentes foram descobertos apenas porque alguém
procurou alternativas à desprezada cebola.
Outro
motivo que me faz refletir e não desejar o confortável desaparecimento da
cebola é o fato de que existem muitas pessoas que precisam dela para
sobreviver. Há famílias inteiras que dependem do seu plantio, que trabalham de
sol a sol, que cuidam, adubam, regam. E depois vendem. Também tem o cara que
transporta. O que distribui. E o que vende na feira. Ah... e o que pesa na
balança. Todos eles dependem, mesmo que em uma pequena parte, da cebola. Então
o fato de não gostar dela na maionese, não me dá o direito de querer seu fim
sumário, simplesmente porque não tenho o direito de querer o mal de tantas
pessoas para favorecer um gosto pessoal meu. Ou seja, não quero comê-la, mas
para isto não preciso odiá-la, correto?
O que temos
visto nas redes sociais ultimamente é um festival de ódio à cebola. Seja ela cebola
política, cebola religiosa ou, até mesmo, cebola esportiva. Pasmem!
Quantas
vezes por dia nos deparamos com pessoas, muitas delas amigas nossas, que
disseminam o ódio às suas cebolas? Compartilham mensagens e imagens carregadas
de preconceito, pregam escancaradamente que aquele que gosta então não deveria
comer outra coisa, apenas cebola. Quem sabe até se mandar para outro país onde
sua cebola fosse aceita com naturalidade, mas não aqui. Apresentam provas
cabais de que a cebola está envolvida em tudo que é de mais ruim no mundo e que
por isso mesmo deveria ser erradicada. Com violência, se fosse o caso.
Se um
músico se manifestar a favor da cebola: Parem de ouvi-lo agora! Sua música não
presta e seu sucesso só se deu porque existe uma fraude na Lei de Incentivo ao
Bulbo Vegetal! Não importa o quanto de admiração havia por qualquer pessoa, a
partir do momento em que ela resolver defender a cebola, devemos considerá-la
burra, corrupta e mentirosa. Devemos questionar não seu posicionamento com
relação à cebola, mas sua obra como um todo.
Por outro
lado, os contrários, que defendem o tempero, dizem que aquele que não gostar de
cebola é covarde, que a única comida verdadeiramente boa é aquela feita com
bastante cebola. Vão usar apelidos depreciativos para diminuí-los em sua
condição humana. Podem, inclusive, defender que o ideal seria um mundo onde
todos fossem obrigados e comer cebola sorrindo e tecendo elogios fervorosos ao Grande
Chef que, impecável em sua cozinha, mandaria envenenar a comida de qualquer um
que ousasse questionar o sabor e a importância de suas cebolas.
Não vivemos
mais no limite da tolerância. Já o ultrapassamos faz tempo. Nossa sociedade
está no momento em que a frase “Está comigo ou contra mim?” é perfeitamente
natural. Mensuramos o caráter das pessoas não pelo que elas acreditam, mas pelo
quanto o que elas acreditam se aproxima do que eu acho certo e aceitável. Em
quem se vota, com quem se dorme e até mesmo o que se come é mais importante do
que o quanto uma pessoa possa ter feito de bem para outras. Estamos mais
próximos das fogueiras inquisitórias da Idade Média do que imaginamos.
Um grande
abraço e um ótimo final de semana a todos nós.
TOLERÂNCIA
AINDA É A PALAVRA MAIS BONITA DA LÍNGUA PORTUGUESA! #SEJATOLERANTE!
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Bela reflexão, Leandro! Esse mal (intolerância) está presente no cotidiano em todos os noticiários, local e mundial.
ResponderExcluirAgora,meu amigo, dá para tolerar com prazer uma salada de cebola com tomate.
Para finalizar: Uma cebola cortada é muito útil para extrair o ferrão de uma abelha no corpo da gente
Abração,mestre!
Grande amigo e mestre! Muito obrigado pelas palavras. Contar contigo como leitor destas minhas reflexões despretensiosas é sempre motivo de alegria. Um grande abraço!!!
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