OPINIÃO 058 - Sobre o BOLSA FAMÍLIA

Engraçado e curioso tentar entender as pessoas que criticam programas sociais como o Bolsa Família. São as mesmas que há duas décadas pediam nas ruas, com caras pintadas, a justa distribuição de renda no Brasil.

Nos lugares mais miseráveis do país, recantos estes onde os críticos nunca pisaram, o Bolsa Família livra seres humanos da miséria absoluta, da fome. São menos pedintes nas ruas, menor número de pessoas em vulnerabilidade social e a diminuição do êxodo para os grandes centros urbanos, que já estão lotados.

Quem critica a distribuição de renda, chamando-a de esmola, repete apenas o que lê nas redes sociais ou então na mídia parcial e demagógica, que mostra apenas uma extrema minoria de pessoas que utilizam o benefício de maneira errada. Para o “crítico do senso comum”, as milhares de famílias que conseguem tirar seus filhos pedintes dos semáforos são menos relevantes que um criminoso que utiliza a fragilidade do sistema judiciário e a impunidade para roubar o dinheiro do Bolsa Família. Quem frauda programas sociais são pessoas que não precisam se beneficiar deles. Querer acabar com a distribuição de renda, em um país onde há tanta desigualdade e pobreza, por causa de meia dúzia de ladrões, é culpar aquele que mais sofre as consequências da corrupção em vez de punir o corrupto.

O que precisamos mesmo é de punição exemplar para quem usa a máquina do governo para lucrar. Quem obtém vantagem própria através de projetos que tem como objetivo diminuir o sofrimento e o risco de quem está em pobreza extrema merece condenação. Não o projeto em si. É como pedir que se pare de vender carros, porque alguns irresponsáveis bebem e dirigem. A culpa não é do carro, nem das fábricas ou das revendas.

A mídia parcial tira o foco do problema, não aponta a solução e não entra no barraco de quem passa fome, simplesmente porque este não é consumidor dos produtos que anuncia e vende. O crítico não entende que os R$ 50,00 que gasta com cigarro ou cerveja é o que alimenta uma família por um mês inteiro. Ou entende, mas como não é com ele, não está nem aí. É muito mais “popular e politizado” achincalhar a esmola e reclamar no Facebook do que tentar propor uma solução. O dinheiro que sai do cofre público e vai para a panela do extremamente pobre, tem como objetivo manter o menor na escola, garantir a ele um mínimo de dignidade e tirá-lo de uma condição que ele não pediu. Se a criança nasce em um ambiente de miserabilidade, é obrigação do Estado garantir que ela não morra nesta mesma situação. Quem não concorda que seja assim, tem como opção a Índia, onde o regime de castas garante que quem nasce miserável, deve morrer miserável.

O Brasil, grande país das liberdades, laico e bonito por natureza, ainda não aprendeu a viver democraticamente. Ainda fura a fila, pirateia o filme e pede uma ajudinha especial para aquele seu parente funcionário público. E reclama do corrupto! O Brasil quer o fim da pobreza matando o pobre, e não dando condições humanas a ele. O Brasil que se acha muito esperto por conseguir importar um aparelho para poder assistir TV por assinatura sem pagar mensalidade às operadores. O Brasil que finge estar dormindo para não ceder o lugar ao idoso no metrô. O Brasil quer o fim da distribuição de renda que durante tanto tempo pediu, mas aceita dar uma graninha “por fora” para não ser multado ou ter o carro guinchado.

Torço pela manutenção da distribuição da renda no Brasil, seja através do Bolsa Família, ou do nome que queiram dar a ela. O dinheiro na mão de quem tem fome não está no bolso, cueca ou meia do político corrupto. E àqueles que criticam a “esmola eleitoreira”, espero que nunca lhes falte nada, seja comida, casa ou dignidade.


A maior pobreza do Brasil é a de espírito. Esta, infelizmente, não pode ser erradicada com o Bolsa Família.





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Comentários

  1. Achei que você também iria criticar o Bolsa Família. Fiquei feliz com o seu texto, concordo plenamente!

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    1. Bom dia, Carina! Te enganei, né? Obrigado por prestigiar! Abraço!

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  2. Belo texto...Nos faz refletir. Eu particularmente nunca tinha pensado tão profundamente no assunto e sim, muitas vezes me indignei com o mau uso do bolsa família e de fato, não é pq alguns usam de forma errada é que precisamos generalizar. Enfim, como sempre, escreveste muito bem. Parabéns e obrigada pelas tuas contribuições!

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    1. Oi, Mariana! Muito obrigado por prestigiar, isso só me faz acreditar que estou no caminho certo... Um abração!

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  3. Leandro, a crítica em cima da bolsa família parte de algumas pessoas tão distantes da realidade da fome, da necessidade, do medo...Recentemente o jornal Folha de São Paulo publicou, na capa a seguinte manchete: Característica do governo PT nos anos no poder: Diminuiu a desigualdade social. Tem um trecho de uma música do Ze Geraldo que pode ser cantado às pessoas que criticam a bolsa família: "... tudo isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos". Bjs Roxane

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  4. Saudades de ti tchê, tudo bem? Interessantíssimo teu texto. Ponderado e reflexivo. Tapa de luvas nas já conhecidas contradições e paradoxos tão comuns, onde discurso e prática caminham em direções diametralmente opostas. Forte abraço deste eterno amigo. Gilvan.

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  5. Gracias, meu amigo! Fico feliz em saber que prestigiaste minha publicação. Abraço grande!

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  6. O Programa Bolsa Família é, atualmente, a política Pública de proteção social mais significativa da Política de Assistência Social no Brasil, pois está combatendo a a fome, a desnutrição, trazendo mudanças positivadas nas famílias em situação de vulnerabilidade social. É uma Política Pública social que serve como uma proteção aos cidadãos, criando e aplicando planos, projetos e programas relacionados aos direitos e devres sociais, os quais atribuem a condição dos mesmos perante a sociedade. Parabéns, um belo texto perante os direitos e garantias sociais a população brasileira.

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