O evento mais transformador na vida de uma pessoa é o nascimento
de um filho. Nada passa incólume. As mudanças, todas muito radicais, vão do aspecto financeiro à gigantesca
reviravolta nas rotinas e hábitos pessoais. Algumas pessoas aproveitam este
acontecimento como uma chance para crescimento pessoal, de renovação
espiritual e verdadeira transformação de velhos e surrados valores. Outras, sabemos, acabam revelando aspectos tão negativos de sua personalidade
que acabam jogando no novo ser, cuja responsabilidade pelo nascimento é sua,
toda a culpa pelos seus problemas no mundo: não há mais grana, tempo,
liberdade.
São
faces completamente opostas de uma mesma moeda, que certamente vai cair, mas
não podemos imaginar que lado revelará, até que a sorte esteja consumada. O importante, para o que direi a seguir, é termos a consciência de que o nascimento do filho é um fenômeno transformador. Nada mais será como antes.
A sabedoria popular reza que não há tristeza maior do que aquela sentida pelo pai que enterra seu
filho. Todos sabemos que a recíproca não é menos penosa. Mesmo aqueles que
ainda têm a graça da presença dos pais, mesmo para os espiritualizados, é sempre
difícil cogitar a perda, pois mesmo ao sabê-la inevitável, é dolorosa.
Talvez
por ser uma pessoa que tem uma dificuldade muito grande de lidar com a perda e
com a morte, uma das maiores mudanças interiores que aconteceram comigo depois
do nascimento do meu filho foi esta constante consciência do fim e o medo
indelével de faltar com ele, de desampará-lo. Este sentimento é tão radical que
afetou meus hábitos alimentares, a forma com que dirijo meu carro e a maneira
que me relaciono com a frustração. Constantemente penso que há alguém em casa
muito dependente de mim, me esperando.
---------------------------------------------------------------
Pois
bem... Dito tudo isto, posso começar a delinear meu sentimento com relação ao
personagem do título deste texto, o Maior Egoísta do Mundo.
O
que um pai amoroso mais teme que aconteça com seu filho? Que este venha a
sofrer, seja qual for a natureza da dor. A alegria dos pais pode se traduzir na felicidade dos filhos. O sono tranquilo de quem gera a vida, é ver esta vida se
desenvolver com paz e regozijo. Ou não?
Pergunto: Quando que uma pessoa faz do seu interesse algo maior do que a preocupação com o futuro
daquele cuja existência é sua responsabilidade?
No
meu entendimento não há imagem mais paradoxal ao conceito de responsabilidade que a de um
pai ou mãe que segura com uma mão seu filho pequeno e com a outra um cigarro. É
algo como dividir sua atenção entre dois extremos, colocando-os em igualdade de importância: a vida e o vício.
Será
que a mãe (ou pai) que fuma na presença de seu filho tem noção da deterioração que está causando na formação deste ser? Sim, pois todo fumante é consciente
dos males que cigarro pode trazer para si. Como ex-fumante posso afirmar isto
sem medo de estar cometendo qualquer sofisma. A mídia e a escola vão dizer à
criança que o cigarro mata, contudo, ao chegar em casa ela vai ver aqueles que
deveriam ser seu maior exemplo se suicidando aos poucos diariamente. É o paradoxo do extremo
egoísmo do vício: dizer para seu filho que o cigarro faz mal, mas fumar
indiscriminadamente porque “não consegue parar”.
Talvez
apenas quem sentiu o sofrimento que é perder uma pessoa que ama para o câncer,
lenta e dolorosamente, entenda a aflição que sinto ao imaginar que um dia meu
filho possa sentir o mesmo ao me ver morrer para esta doença. Endossando o que
digo estão pesquisas reveladoras que apontam o cigarro como responsável por 90%
dos tumores pulmonares, 75% das bronquites crônicas, 25% das doenças isquêmicas
do coração. Acredite: se o cigarro não te preocupa, pois tu estás consciente
dos males que ele pode causar, ELE VAI SER O RESPONSÁVEL PELA MAIOR DOR DA VIDA
DE TEU FILHO, que é o de te ver morrer sofrendo.
Já ouvi muitas vezes a frase cretina que diz “Conheço uma pessoa que fumava e
que viveu até os 90 anos!”. Provavelmente esta pessoa não bebia refrigerante
por água, não trabalhava 50 horas semanais, não ingeria tanto alimento
industrializado e nem passava tanto tempo em frente à TV ou computador. Somos
uma geração onde o câncer tem se manifestado com uma frequência assustadora,
cada vez mais cedo. O que desejamos para a próxima geração, a de nossos filhos?
Neste
caso, não há gesto mais nobre que o de renúncia ao tabaco. Abdicar de algo autocentrado, por
alguém que amamos, é transigir em nome desta pessoa e do que ela representa em
nossa vida. Trocar o cigarro pelo desejo de ficar mais tempo perto de nossos
filhos, de oferecer amparo, conselho, experiência, e, principalmente, EXEMPLO é o mais alto que podemos
chegar em generosidade e, por que não, gratidão. Porque faz parte desta
coisa louca e linda que é viver, desejarmos, doarmos e agradecermos.
Dá
amor ao teu filho, troca a fumaça do cigarro pelo seu sorriso. O que tu
consideras mais importante?
Me segue no Twitter: @Le_Aquecimento
Visita também o Blog Uma Outra Cor
P.S. em 22/05/2013: Sou ex-fumante, minha mãe fumou até pouco tempo e meu pai é fumante. Perdi meus dois avôs para o câncer.
Muito bom amor, é bem a realidade de muitas pessoas...
ResponderExcluirObrigado, meu amor!
Excluir"Não vou ler porque o texto não fala sobre mim, nem sobre coisas de que eu gosto!!!"
ResponderExcluirEu diria isso se fosse o maior egoísta do mundo, hehe...
Muito bom o texto. Leandro, tu escreve melhor do que muito colunista conhecido cara!!! E eu falo sério!!! Gosto de ler textos bem escritos...
Gracias, meu amigo...
ExcluirMuito bom mesmo.
ResponderExcluirMuito obrigado, Claucia!
Excluir