Comecei a
trabalhar na área de Tecnologias Educacionais (TE) no longínquo primeiro de
março de 1999. Não que aquilo tudo fosse mato, longe disso, mas ainda havia
muito esforço para tentar convencer o meio educacional de que a informática
poderia ser um instrumento que servisse além dela mesma. Até o final do século
XX podemos dizer que a computação era vista no meio acadêmico e escolar ainda
como um mistério quando o assunto era dividir espaço com Ciências Humanas,
Ciências da Natureza e Linguagens, além do editor de textos e dos
revolucionários e-mails. A única área que presumia a utilização do computador pedagogicamente
era a Matemática, porque ainda se entendia que o estudo da lógica era uma
exclusividade do universo dos números. E lá se ia a tartaruguinha do Logo (software
que simulava uma linguagem de programação simples) fazendo as crianças pensarem
logicamente. Mas ainda era mais um “extra”, que uma extensão da matemática
propriamente dita.
Então, em 2007
(olha como isso faz pouco tempo), já ia para outra escola onde fui contratado
para administrar um novíssimo Laboratório de Informática. Esta escola, até
então, tinha apenas uma sala com meia dúzia de computadores limitadíssimos, aonde
as crianças iam para desenhar no Paint Brush. Por uma necessidade muito mais de
mercado que pedagógica, se viu obrigada a montar um espaço com uma rede de
computadores, uma TV de tela grande (de tubo) para transmitir conteúdos e
contratar um serviço bom de internet. Nunca vou esquecer quando o diretor da
escola entrou Lab à dentro antes de sua inauguração, com um representante da
mantenedora, e disse “Taí esta merda. Não é isso que vocês queriam?”.
Pois então, houve um momento em que os recursos informáticos não passavam de
uma necessidade de mercado, um espaço para ser fotografado e colocado no folder
ou, ainda, um lugar legal para levar a família que estava visitando a escola na
época das matrículas. Houve uma época.
Aos poucos as
Tecnologias Educacionais foram conquistando seu lugar na escola, requerendo o
reconhecimento como espaço pedagógico, multidisciplinar e de construção de
conhecimento. Com a popularização dos dispositivos móveis capazes de acessar
plataformas, aplicativos e, principalmente, com internet relativamente rápida,
a informática educacional passou a ser parte de algo maior. As Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs) deixando de ser um lugar na escola para ser
um serviço onipresente. As Tecnologias Educacionais inverteram algo que se imaginava
imutável desde sempre: além do estudante ir até a escola, agora a escola acompanhava o estudante onde quer que ele estivesse.
Hoje o aluno
não depende mais do Laboratório de Informática para ter acesso à informação
digital, muito menos precisa carregar suas coisas em pendrives do computador de
casa para o da escola. Na verdade nem precisa mais de pendrives. Nem de
computadores! E este é o momento em que a virada começa a tomar forma, pois a
TE deixa de ser uma opção de recurso oferecido aos educadores, para se tornar algo
que partilha do mesmo caminho pelo qual andam os processos educativos. Dominar
a ferramenta tecnológica vira, depois de 2010, mais do que uma exigência, mas
um conhecimento presumido de educandos e educadores.
Diferente da
resistência e da falta de compreensão inicial, as Tecnologias Educacionais estão
muito além de uma exigência de mercado, porque não há mais educação viável sem
estrutura e pessoal qualificado para dar fluidez aos recursos tecnológicos,
fazendo-os cumprir o papel de constituinte do atual conceito de escola.
Enfim, chegou a
pandemia de Covid19. Junto da pandemia o distanciamento social e a
inviabilidade sanitária das aulas presenciais. E no meio deste turbilhão de
desconstruções de conceitos, da procura por “novos normais”, não vejo mais as Tecnologias
Educacionais partilhando o caminho dos processos educativos. Elas são o
caminho! Constituem o centro nervoso das escolas, dos processos pedagógicos
e do ensino como um todo. Uma crise global de saúde apresentou as Tecnologias
Educacionais para o mundo, como algo capaz de viabilizar que ainda haja escola,
mesmo que a partir de um celular. Dos mais baratos. Seja nas escolas privadas
mais privilegiadas estruturalmente, ou nas escolas públicas mais humildes, o
uso da tecnologia manteve viva a educação, mesmo em tempos tão difíceis.
A educação é
viável mesmo nas condições mais adversas do ponto de vista pedagógico e
estrutural, graças ao serviço das Tecnologias Educacionais e, principalmente,
das pessoas que fazem este serviço acontecer.
E aí fico
imaginando o que passou pela cabeça daquele diretor ao qual me referi no início
dessas reflexões, quando se dirigiu de maneira tão infeliz ao Laboratório de
Informática de sua escola, recém inaugurando, e o que passaria hoje, quando ele
tem no serviço iniciado comigo em 2007 a única forma de uma instituição de
ensino continuar sendo escola, mesmo com as portas fechadas aos estudantes. Me
dá vontade de olhar para ele e dizer, sorrindo, “Tá aí esta maravilha. Não é
isso que vocês queriam?”
Dedico este texto
a todos os colegas profissionais de Tecnologias Educacionais, que têm se dedicado
intensamente neste momento tão difícil, que tem nos feito provações quase que
diariamente. Vocês são incríveis!
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