OPINIÃO 109 - Exército apartidário e apolítico. Aham...

 

Ontem, 13/11/2020, o General Pujol, comandante do Exército Brasileiro, falou em um evento aos militares que as Forças Armadas não são políticas, que são apartidárias.

Fiz parte do Exército durante cinco anos. Um ano e meio como soldado, na tropa, e três anos e meio como cabo no Centro de Informática do Exército, entre 1993 e 1998. Naquela época esse tipo de assunto nem era discutido. Não era necessário. Na primeira semana de serviço militar obrigatório ficava muito claro que hierarquia e disciplina norteavam todas as ações na "caserna". Não havia qualquer menção à participação política de militares, nem da reserva, muito menos da ativa. Então, mesmo sem precisar afirmar, sabíamos que "estar no quartel" era fazer parte de uma instituição de Estado, e não de governo.

O atual presidente da república não fez campanha, durante o período eleitoral, com programa de governo. Pra ser sincero, acho que até hoje não tem. Mas entre “fuzilar a petezada”, “acabar com o kit gay” e “as minorias sucumbirem”, uma das raríssimas afirmações que se parecia, distantemente, com uma plataforma de governo, era a de que “não teríamos mais um ministério político, mas um ministério técnico”. Entende-se por ministério técnico aquele que é composto por especialistas. Na Saúde deveríamos ter um médico, no Meio Ambiente um ambientalista, na Economia um economista. E assim por diante. No entanto, isso não se confirma na prática, nem de longe.

Em 17 de julho de 2020 o site Consultor Jurídico (conjur.com.br) e o Uol Notícias (noticias.uol.com.br), reportam que 6.157 militares estão no governo exercendo cargos que foram criados para ser preenchidos por civis. Proporcionalmente falando, temos mais militares em cargos públicos que a Venezuela, uma ditadura militar (bbc.com). Só na saúde são 1.249 militares, segundo o Terminal de Contas da União.

    Portanto, ao contrário do que afirma o General Pujol, o Exército Brasileiro está mais do que politizado. Ele está fazendo parte íntima e intensamente da política brasileira. Cumprindo papéis muito distantes daqueles que, lá no início de 1993, aprendi serem escopo do militar. São atribuições exclusivamente políticas. As Forças Armadas são, hoje, signatárias de tudo que está sendo feito e desfeito pelo governo federal. É mais do que parte do governo, é cúmplice dele. E quando falo cúmplice, estou me referindo aquelas ações cujas consequências colidem diretamente com aquilo que poderia oferecer algo de bom ao povo e à pátria.

    Nossa pátria amada virou uma “pátria armada”. E mesmo que estes generais apareçam elegantes em seus ternos bem cortados, sabemos que eles deveriam mesmo estar usando, com orgulho, o camuflado que os identifica. E assim cumprindo sua verdadeira missão, que nada tem a ver com a de defender o governo. Estariam defendendo o Brasil e os brasileiros. Porque a palavra Pátria tem muito mais a ver com as pessoas, do que com os governos.

 

Fontes:

BBC - https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51646346

Consultor Jurídico - https://www.conjur.com.br/2020-jul-17/mil-militares-exercem-funcoes-civis-governo-federal

Uol Notícias - https://noticias.uol.com.br/colunas/constanca-rezende/2020/07/17/numero-de-militares-em-cargos-civis-mais-que-dobra-em-governo-bolsonaro.htm

 



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