A polarização política trouxe inúmeras consequências. Nenhuma delas positiva. Nos acostumamos a classificar as pessoas como “a favor” ou “contra”, simples assim, como se a política fosse realmente algo binário, raso e maniqueísta. Contudo, se há algo nesse processo todo que preocupa muito, é a forma com que as crianças estão sendo envolvidas nas questões ideológicas dos pais.
Quando uma criança tece frases
chamando políticos, ou qualquer outra pessoa, de ladrão ou bandido, ou pior
ainda, quando brada desejando o mal (inclusive a morte, como já presenciei) de
alguém, esta criança não está fazendo julgamentos de valor, mas repetindo aquilo
que ouviu de seus pais, suas principais referências. A criança não compreende a
distinção ideológica (muitos adultos também não), mas compreende o significado das
palavras, quando elas representam aquilo que nós, adultos, às ensinamos. Fazer uma
criança desqualificar uma pessoa, sem que ela entenda o real motivo da
adjetivação, é alimentar o senso comum, diminuindo sua capacidade de senso
crítico. É muito provável que se torne um adulto incapaz de formular conceitos
próprios, eternamente dependente dos apontamentos feitos por outras pessoas.
Ela vai odiar o que o pai, o marido, o chefe, o professor ou qualquer pessoa
que represente autoridade, odeia.
Jamais devemos usar a infância como
panfleto ou bandeira. Que se ensine às crianças noções de justiça, direito e
liberdade, dando condições para que possam fazer reflexões que estão de acordo
com sua capacidade de compreensão. Desenvolvamos sua autonomia, não as fazendo
repetir, como papagaios, aquilo que sequer nós mesmos compreendemos bem.
Enfim, quer permita-se que as crianças
sejam crianças, nada além de crianças.
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