O professor precisa ser reeducado na utilização das
ferramentas tecnológicas, da mesma maneira que estivesse sendo preparado para
ensinar Língua Portuguesa utilizando um idioma com o qual não está acostumado a
exercer seu ofício. Os instrumentos tecnológicos, quando utilizados para
educar, exigem um domínio completamente diferente daquele necessário para uso
pessoal. Por mais que o professor utilize computadores para tarefas, mesmo
complexas, como operações bancárias, comércio eletrônico, troca de mensagens,
manipulação de mídias ou comunicação, está fazendo uso dos recursos para
atender suas expectativas pessoais, não gerando impacto imediato nas relações
destes recursos com terceiros. A partir do momento que tais instrumentos
tornam-se recursos pedagógicos, o grau de exigência ultrapassa os limites do
conhecimento relacionado ao seu funcionamento. Soma-se a estes saberes a
possibilidade que estas tecnologias têm de se relacionar com o conteúdo a ser
ensinado, tornando-se realmente um meio integrante da construção, mais do que
um mero canal de comunicação.
Nestes meus mais de vinte anos como profissional de
Tecnologias Educacionais, percebi que são três as grandes dificuldades na
aplicação de instrumentos tecnológicos como meio capaz de fazer a relação
educador/conteúdo/estudante de forma orgânica:
- A falta de capacitação ao educador com relação
aos instrumentos oferecidos, não como forma de manipular a ferramenta, mas
como tê-la inserida no processo de ensino e aprendizagem de forma natural,
dialogando com os conteúdos, criando intimidade com a didática, da mesma
maneira que uma lousa, por exemplo. Pensemos o quão natural a utilização de uma
lousa é para um professor de Língua Portuguesa para sua comunicação com
estudantes dos Anos Finais. Agora, imaginemos como seria para um professor com
esta mesma capacitação a utilização da lousa para ensinar análise sintática a
crianças da Educação Infantil. Por mais conhecimento e experiência que o
educador tenha com esta ferramenta, se não for adequadamente capacitado para
utilizá-la dentro destas exigências específicas, não haverá fluidez na
transmissão dos conhecimentos.
- A complexidade da utilização do mesmo recurso em
turmas heterogêneas. Por mais atrativa que seja a proposta, ou inovadora
sua concepção, não podemos deixar de levar em consideração que, no Brasil, as
classes são formadas por turmas numerosas. Quanto maior o número de estudantes
em uma mesma sala, maior o número de características individuais capazes de não
entender ou aceitar o método aplicado. Por exemplo, um professor pode
disponibilizar aos estudantes recursos como sucata e pedir que construam uma
instalação capaz de transmitir determinada mensagem. Uma turma numerosa trará
um número maior de projetos que não atinjam o resultado esperado, pois haverá
uma menor capacidade de personalização no atendimento daqueles estudantes que não
compreendem ou aceitam a proposta. Neste caso, há duas possibilidades de
obtenção de melhores resultados: otimizar o atendimento particionando a turma
ou oferecendo outros recursos/atividades para que os estudantes tenham opções
para apresentar o conhecimento cuja análise está sendo feita pelo educador.
- O entendimento por parte da gestão escolar de
que os educadores são os elementos mais importantes na hora de estabelecer
quais recursos novos devem ser implantados ou são necessários para construção
dos processos de ensino e aprendizagem. Por melhores que sejam as intensões
dos gestores, exigir a utilização de recursos novos para justificar o
investimento feito, vai gerar uma série de subutilizações destes mesmos
recursos. O mesmo acontece nas escolas públicas, quando gestões políticas
entregam instrumentos sem que haja profissionais capacitados ou treinamento
adequado aos educadores. Sem uma discussão ampla com a comunidade escolar
(professores, laboratoristas, estudantes), um recurso tecnológico corre o risco
de não se tornar o recurso pedagógico esperado, perdendo sua finalidade como
instrumento de construção de conhecimento e transformando-se, talvez, em algo
que faça exatamente o papel contrário, subtraindo bons projetos que poderiam
estar sendo desenvolvidos com as ferramentas que a instituição de ensino já possuía.
Como visto, a utilização de Tecnologias de Informação
e Comunicação impactam diretamente na forma com que o conhecimento é
transmitido em sala de aula. Contudo, a exigência na capacitação de
profissionais e na forma com que são utilizadas vão influenciar diretamente nos
resultados obtidos. Não devem ser pensadas como apenas mais um canal de
comunicação. Tampouco como o final de um processo. Devem ser entendidas como
ferramentas que estão posicionadas entre os anseios do educador em facilitar a
construção do conhecimento e os objetivos do estudante em obtê-lo. Assim, como
parte integrante do processo de ensino e aprendizagem, as TICs continuarão nas
salas de aula, evoluindo positivamente e nos transformando.
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