OPINIÃO 100 - Tecnologias e Educação

Quando falamos em utilizar Tecnologias de Informação e Comunicação na educação, não podemos nos esquecer que, quando da própria utilização das TICs, estamos fazendo uso de uma linguagem singular e representativa. A utilização de qualquer ferramenta digital, seja ela presencial ou à distância, desconectada ou online, com computador ou mobile, implica em transmitir uma mensagem usando códigos e termos específicos, em uma língua que muitas vezes é dominada pelo estudante com muito mais proficiência que pelo educador.

O professor precisa ser reeducado na utilização das ferramentas tecnológicas, da mesma maneira que estivesse sendo preparado para ensinar Língua Portuguesa utilizando um idioma com o qual não está acostumado a exercer seu ofício. Os instrumentos tecnológicos, quando utilizados para educar, exigem um domínio completamente diferente daquele necessário para uso pessoal. Por mais que o professor utilize computadores para tarefas, mesmo complexas, como operações bancárias, comércio eletrônico, troca de mensagens, manipulação de mídias ou comunicação, está fazendo uso dos recursos para atender suas expectativas pessoais, não gerando impacto imediato nas relações destes recursos com terceiros. A partir do momento que tais instrumentos tornam-se recursos pedagógicos, o grau de exigência ultrapassa os limites do conhecimento relacionado ao seu funcionamento. Soma-se a estes saberes a possibilidade que estas tecnologias têm de se relacionar com o conteúdo a ser ensinado, tornando-se realmente um meio integrante da construção, mais do que um mero canal de comunicação.

Nestes meus mais de vinte anos como profissional de Tecnologias Educacionais, percebi que são três as grandes dificuldades na aplicação de instrumentos tecnológicos como meio capaz de fazer a relação educador/conteúdo/estudante de forma orgânica:

- A falta de capacitação ao educador com relação aos instrumentos oferecidos, não como forma de manipular a ferramenta, mas como tê-la inserida no processo de ensino e aprendizagem de forma natural, dialogando com os conteúdos, criando intimidade com a didática, da mesma maneira que uma lousa, por exemplo. Pensemos o quão natural a utilização de uma lousa é para um professor de Língua Portuguesa para sua comunicação com estudantes dos Anos Finais. Agora, imaginemos como seria para um professor com esta mesma capacitação a utilização da lousa para ensinar análise sintática a crianças da Educação Infantil. Por mais conhecimento e experiência que o educador tenha com esta ferramenta, se não for adequadamente capacitado para utilizá-la dentro destas exigências específicas, não haverá fluidez na transmissão dos conhecimentos.

- A complexidade da utilização do mesmo recurso em turmas heterogêneas. Por mais atrativa que seja a proposta, ou inovadora sua concepção, não podemos deixar de levar em consideração que, no Brasil, as classes são formadas por turmas numerosas. Quanto maior o número de estudantes em uma mesma sala, maior o número de características individuais capazes de não entender ou aceitar o método aplicado. Por exemplo, um professor pode disponibilizar aos estudantes recursos como sucata e pedir que construam uma instalação capaz de transmitir determinada mensagem. Uma turma numerosa trará um número maior de projetos que não atinjam o resultado esperado, pois haverá uma menor capacidade de personalização no atendimento daqueles estudantes que não compreendem ou aceitam a proposta. Neste caso, há duas possibilidades de obtenção de melhores resultados: otimizar o atendimento particionando a turma ou oferecendo outros recursos/atividades para que os estudantes tenham opções para apresentar o conhecimento cuja análise está sendo feita pelo educador.

- O entendimento por parte da gestão escolar de que os educadores são os elementos mais importantes na hora de estabelecer quais recursos novos devem ser implantados ou são necessários para construção dos processos de ensino e aprendizagem. Por melhores que sejam as intensões dos gestores, exigir a utilização de recursos novos para justificar o investimento feito, vai gerar uma série de subutilizações destes mesmos recursos. O mesmo acontece nas escolas públicas, quando gestões políticas entregam instrumentos sem que haja profissionais capacitados ou treinamento adequado aos educadores. Sem uma discussão ampla com a comunidade escolar (professores, laboratoristas, estudantes), um recurso tecnológico corre o risco de não se tornar o recurso pedagógico esperado, perdendo sua finalidade como instrumento de construção de conhecimento e transformando-se, talvez, em algo que faça exatamente o papel contrário, subtraindo bons projetos que poderiam estar sendo desenvolvidos com as ferramentas que a instituição de ensino já possuía.

Como visto, a utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação impactam diretamente na forma com que o conhecimento é transmitido em sala de aula. Contudo, a exigência na capacitação de profissionais e na forma com que são utilizadas vão influenciar diretamente nos resultados obtidos. Não devem ser pensadas como apenas mais um canal de comunicação. Tampouco como o final de um processo. Devem ser entendidas como ferramentas que estão posicionadas entre os anseios do educador em facilitar a construção do conhecimento e os objetivos do estudante em obtê-lo. Assim, como parte integrante do processo de ensino e aprendizagem, as TICs continuarão nas salas de aula, evoluindo positivamente e nos transformando.





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