OPINIÃO 099 - O preconceito com poetas gaúchos no meio acadêmico - tema para debate

    Sempre me questionei sobre o motivo pelo qual poetas gaúchos, principalmente os que assumem sua predileção por temas regionais, ou mesmo aqueles que versam sobre as gentes e as coisas do Rio Grande do Sul sem rótulos específicos, sofrem certo tipo de preconceito no meio acadêmico. Lembro de uma professora da Unipampa, neste semestre, ao comentar o fato de ter lido um poema meu que seguia esta linha, me dizendo "Ah, mas tu és dos tradicionalistas.", colocando-me em uma linha poética "à parte". Ou quando li o comentário de um colega que falava nestes três grandes nomes da poesia gaúcha, Rillo, Vargas e Braum, em outro tópico, unindo-os "neste estilo de Poesia". Eu me pergunto: Qual estilo???? Porque os três são grandes nomes da poesia regional gaúcha, mas escrevem em estilos completamente diferentes entre si. Tanto em forma, quanto em conteúdo.

    Os poetas gaúchos são vistos apenas de longe no meio acadêmico. Os cursos de Letras mal falam na produção poética de autores daqui se eles falarem -olha que loucura!- daqui. E quando são citados, são colocados em uma única caixinha, etiquetada como "poesia gauchesca", expressão esta pela qual tenho horror. Deixam a caixinha ali, num cantinho, onde não atrapalhe ou seja vista.

    O que resta aos poetas gaúchos para receber notoriedade como verdadeiros autores de trabalhos com qualidade e relevância, dignos de estudos? Teriam que fazer declarações públicas do tipo "Eu só nasci aqui, mas não foi culpa minha!!!"??? 

    Poetas como Apparício Silva Rillo e Antônio Augusto Ferreira, por exemplo, escreveram poemas maravilhosos, tanto na linha regional quanto com temas universais. Seus livros "Doze Mil Rapaduras" (Rillo) e "Coisas da Vida" (Ferreira), são exemplos de obras belíssimas, sem cunho regional, mas que ficaram ocultos em uma neblina de desconhecimento acadêmico, porque seus autores habitualmente falam sobre temas campeiros ou folclóricos.

    Autores como Aureliano de Figueiredo Pinto (1898-1959) e Vargas Neto (1903-1977) "criaram" a poesia regional gaúcha em pleno Modernismo, mas são completamente desconhecidos nas universidades do Rio Grande do Sul. Por quê? Porque antes de serem autores de poemas com características modernistas ou pós-modernistas, são criadores de textos cultuados até hoje como "regionalistas gaúchos". E isso os subdimensiona. Enquanto isso estudamos com profundidade autores regionalistas de São Paulo, Minas Gerais e Bahia...

    Existe hoje uma vertente de autores incríveis, produzindo textos belíssimos, mas que pelo fato de figurarem entre aqueles que são apreciados em ambientes tradicionalistas ou nativistas, acabam sendo relegados a uma categoria que não figura entre os interesses acadêmicos. Poetas tão virtuosos quanto o alegretense Mário Quintana, que talvez não tivesse sua importância reconhecida no Brasil inteiro se ousasse, vez por outra, falar de sua terra, de sua gente.

    Por que na Academia eu não posso gostar concomitantemente de Mário de Andrade e Carlos Omar Villela Gomes? Por que não é possível estudarmos a obra de Cecília Meireles e de Jurema Chaves? Posso dizer que aprecio tanto a obra de Manoel de Barros quanto a de Vaine Darde? Ah, não conhece Villela, Jurema e Vaine? Está fazendo Letras e nunca ouviu falar neles? Pois acredite, estão entre os poetas mais lidos e declamados do Rio Grande do Sul hoje, mas as universidades não os enxergam, porque são autores de "poesia gauchesca".



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