OPINIÃO 083 - EU ESCOLHI RACIOCINAR (Sobre o clipe “Eu Escolhi Você”, da Clarice Falcão)

Normalmente não uso falar em meu blog sobre polêmicas da internet. Prefiro falar sobre histórias que vivencio ou coisas nas quais eu acredito. Mas li tantas coisas divergentes, principalmente nas redes sociais, que resolvi assistir ao clipe “Eu Escolhi Você”, da Clarice Falcão, e mostrar para algumas pessoas da minha família. Agora compartilho com vocês o que penso sobre o assunto.

Para quem não sabe do que se trata (por onde tu andaste mesmo?), o clipe inteiro se resume em exibir genitais de pessoas dançando. Isso mesmo! Pessoas nuas, mas sem exibir as pessoas... apenas pênis e vaginas dançantes. No final do texto eu coloco o link para quem quiser assistir o vídeo, que ainda está disponível para visualização no Vimeo.

A música é bonitinha. Só isso. Nada de mais. Tipo MPB que não emplaca, saca? Provavelmente quando passar a polêmica da nudez ninguém mais vai lembrar. Assim como a própria Clarice Falcão, que na minha opinião funcionava muito melhor como atriz do Porta dos Fundos do que como cantora. Mas é uma opinião minha, sei que tem uma galera que gosta e eu respeito. O poema fala sobre escolhas que fazemos, acerca das pessoas que estão conosco. Algumas realmente porque optamos e outras por falta de opção mesmo. Fica chovendo no molhado e não chega em lugar algum:

“Eu escolhi você
Porque não tá tão fácil assim de escolher
Tem muita gente ruim
E quando não é ruim
É porque não gosta de mim
Aí termina que no fim só tem você”

Mas o bafafá todo está em torno do clipe, de seus pintos balançantes e vaginas bailarinas. Os comentários dos que condenam o clipe falam em pornografia, baixaria e apelação. Muito também se fala em falta de criatividade e oportunismo. Muita gente, mas muita gente mesmo, começou a tecer comentários a respeito do caráter da cantora, mesmo desconhecendo totalmente quem ela era ou o que fazia antes de ver o clipe pela primeira vez. Muitos fizeram isso sem sequer assistir o clipe. O Youtube tirou o vídeo do ar, o que eu achei bem estranho, pois não é difícil encontrarmos nudez ou até mesmo conteúdo erótico ou explícito no famoso site de vídeos, que diz permitir nudez desde que represente arte, saúde ou ciência. Os moralistas citaram as crianças, a erotização do conteúdo e também não perderam a chance de levantar a questão que trata da necessidade do bloqueio dos conteúdos da internet. Esta semana apareceu até um desocupado preocupado deputado evangélico, que propõe uma lei para impedir conteúdos eróticos na internet, porque “os jovens estão se masturbando demais” (sic).

Na boa, galera, assisti o clipe. Mais de uma vez. Não resisti e mostrei para Fabi, minha esposa. Ainda não satisfeito, mostrei para minha sogra. Depois para alguns amigos e para colegas do trabalho. Finalmente, e nesse caso sei que alguns ficarão “chocados”, mostrei para o Érico, meu filho de oito anos.

Sinceramente, se tem algo que eu não vi no clipe, foi pornografia. Porque a nudez não é pornográfica. Nós somos pornográficos! É possível fazer pornografia sem mostrar sequer uma bunda. A pornografia está no ato sexual, seja através de imagens, sons, textos ou simplesmente insinuações, que mesmo não explicitas, sugerem que o sexo está acontecendo. Isto acontece corriqueiramente na novela das 21 horas, sem genitálias à mostra. Não precisa haver nudez para que algo seja erótico ou sensual. Clipes da Shakira são sensuais sem haver nu, e nem por isso deixam de ser bonitos. Nas letras de funk há pornografia porque não há outra preocupação senão a de mostrar a relação de quem canta com o prazer sexual. Nas imagens do clipe da música da Clarice Falcão isso não acontece, pois existem pessoas nuas, igual a todos nós quando estamos no banho. Não somos pornográficos quando estamos no banho. Ou somos e eu não sei? Talvez eu seja ingênuo demais para enxergar.
A reação de meu filho de oito quando assistiu ao clipe foi incrível! Ele olhou até o fim e concluiu categoricamente: “Pai, esse é o pior clipe que eu já vi na minha vida.” Deu às costas e saiu para brincar. Mas ele não falou isso por causa dos pelados. Seu desinteresse se deu porque o clipe não oferece nada. É tão simples e pobre no que tem a oferecer, que só mostra algo de ruim ou bom porque esses conceitos já estavam na cabeça de quem avalia o clipe antes de assisti-lo. Meu filho não estabelece conceitos sexuais ao vídeo porque isto não faz parte do seu universo, e o clipe não se encarrega de apresentar. Outra coisa que percebi é que o Érico não se impressionou com nada que apareceu justamente por não ter novidade alguma para ele ali. Sempre tomou banho e se trocou conosco e nunca tratamos de estigmatizar ou mascarar a nudez. Tratou a nudez do clipe de forma natural. Como na verdade é!

O grande problema do hipócrita é que ele imputa reputação a tudo e a todos, mas faz isso através de julgamentos baseados em conceitos que estão impregnados no caráter dele mesmo. Quem vê pornografia em uma pessoa nua dançando sem qualquer insinuação sexual, vê em uma pessoa vestida, porque a imagem já estava previamente formada em sua mente. O puritano que vê erotização em uma simples imagem de nu é tão doentio quanto o pedófilo que consegue se excitar com imagens de crianças nuas, e compartilha isso com outros pela web. Qualquer novela das 21 horas tem mostrado muito mais erotização sem o nu explícito que o clipe de Eu Escolhi Você. Não me sinto confortável em ver meu filho na frente da TV na hora da novela, mas tinha certeza que o clipe para ele não teria nada demais.

Enquanto milhões estavam debatendo a perigosa exposição sexual do clipe da música da Clarice Falcão, outra joia musical de verão, o funk “Deu Onda” e seu refrão “Meu pau te ama” estão na cabeça de todos os adolescentes e muitas crianças, pois como não temos pintos e vaginas aparecendo, então ela é legal.

E para concluir: VÃO CARPIR UM LOTE OU CORTAR UMA GRAMA!

Link para o clipe:
https://vimeo.com/196792830





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