Normalmente
não uso falar em meu blog sobre polêmicas da internet. Prefiro falar sobre
histórias que vivencio ou coisas nas quais eu acredito. Mas li tantas coisas
divergentes, principalmente nas redes sociais, que resolvi assistir ao clipe
“Eu Escolhi Você”, da Clarice Falcão, e mostrar para algumas pessoas da minha
família. Agora compartilho com vocês o que penso sobre o assunto.
Para quem
não sabe do que se trata (por onde tu andaste mesmo?), o clipe inteiro se
resume em exibir genitais de pessoas dançando. Isso mesmo! Pessoas nuas, mas
sem exibir as pessoas... apenas pênis e vaginas dançantes. No final do texto eu
coloco o link para quem quiser assistir o vídeo, que ainda está disponível para
visualização no Vimeo.
A música é
bonitinha. Só isso. Nada de mais. Tipo MPB que não emplaca, saca? Provavelmente
quando passar a polêmica da nudez ninguém mais vai lembrar. Assim como a
própria Clarice Falcão, que na minha opinião funcionava muito melhor como atriz
do Porta dos Fundos do que como cantora. Mas é uma opinião minha, sei que tem
uma galera que gosta e eu respeito. O poema fala sobre escolhas que fazemos, acerca
das pessoas que estão conosco. Algumas realmente porque optamos e outras
por falta de opção mesmo. Fica chovendo no molhado e não chega em lugar algum:
“Eu escolhi você
Porque não tá tão fácil assim de escolher
Tem muita gente ruim
E quando não é ruim
É porque não gosta de mim
Aí termina que no fim só tem você”
Mas o
bafafá todo está em torno do clipe, de seus pintos balançantes e vaginas
bailarinas. Os comentários dos que condenam o clipe falam em pornografia,
baixaria e apelação. Muito também se fala em falta de criatividade e
oportunismo. Muita gente, mas muita gente mesmo, começou a tecer comentários a
respeito do caráter da cantora, mesmo desconhecendo totalmente quem ela era ou
o que fazia antes de ver o clipe pela primeira vez. Muitos fizeram isso sem
sequer assistir o clipe. O Youtube tirou o vídeo do ar, o que eu achei bem
estranho, pois não é difícil encontrarmos nudez ou até mesmo conteúdo erótico
ou explícito no famoso site de vídeos, que diz permitir nudez desde que
represente arte, saúde ou ciência. Os moralistas citaram as crianças, a
erotização do conteúdo e também não perderam a chance de levantar a questão que
trata da necessidade do bloqueio dos conteúdos da internet. Esta semana
apareceu até um desocupado preocupado deputado evangélico, que propõe
uma lei para impedir conteúdos eróticos na internet, porque “os jovens estão se
masturbando demais” (sic).
Na boa, galera,
assisti o clipe. Mais de uma vez. Não resisti e mostrei para Fabi, minha
esposa. Ainda não satisfeito, mostrei para minha sogra. Depois para alguns
amigos e para colegas do trabalho. Finalmente, e nesse caso sei que alguns
ficarão “chocados”, mostrei para o Érico, meu filho de oito anos.
Sinceramente,
se tem algo que eu não vi no clipe, foi pornografia. Porque a nudez não é
pornográfica. Nós somos pornográficos! É possível fazer pornografia sem mostrar
sequer uma bunda. A pornografia está no ato sexual, seja através de imagens,
sons, textos ou simplesmente insinuações, que mesmo não explicitas, sugerem que
o sexo está acontecendo. Isto acontece corriqueiramente na novela das 21 horas,
sem genitálias à mostra. Não precisa haver nudez para que algo seja erótico ou
sensual. Clipes da Shakira são sensuais sem haver nu, e nem por isso deixam de
ser bonitos. Nas letras de funk há pornografia porque não há outra preocupação
senão a de mostrar a relação de quem canta com o prazer sexual. Nas imagens do
clipe da música da Clarice Falcão isso não acontece, pois existem pessoas nuas,
igual a todos nós quando estamos no banho. Não somos pornográficos quando
estamos no banho. Ou somos e eu não sei? Talvez eu seja ingênuo demais para
enxergar.
A reação de
meu filho de oito quando assistiu ao clipe foi incrível! Ele olhou até o fim e
concluiu categoricamente: “Pai, esse é o
pior clipe que eu já vi na minha vida.” Deu às costas e saiu para brincar. Mas
ele não falou isso por causa dos pelados. Seu desinteresse se deu porque o
clipe não oferece nada. É tão simples e pobre no que tem a oferecer, que só
mostra algo de ruim ou bom porque esses conceitos já estavam na cabeça de quem
avalia o clipe antes de assisti-lo. Meu filho não estabelece conceitos sexuais
ao vídeo porque isto não faz parte do seu universo, e o clipe não se encarrega
de apresentar. Outra coisa que percebi é que o Érico não se impressionou com
nada que apareceu justamente por não ter novidade alguma para ele ali. Sempre
tomou banho e se trocou conosco e nunca tratamos de estigmatizar ou mascarar a
nudez. Tratou a nudez do clipe de forma natural. Como na verdade é!
O grande
problema do hipócrita é que ele imputa reputação a tudo e a todos, mas faz isso
através de julgamentos baseados em conceitos que estão impregnados no caráter dele
mesmo. Quem vê pornografia em uma pessoa nua dançando sem qualquer insinuação
sexual, vê em uma pessoa vestida, porque a imagem já estava previamente formada
em sua mente. O puritano que vê erotização em uma simples imagem de nu é tão
doentio quanto o pedófilo que consegue se excitar com imagens de crianças nuas,
e compartilha isso com outros pela web. Qualquer novela das 21 horas tem
mostrado muito mais erotização sem o nu explícito que o clipe de Eu Escolhi
Você. Não me sinto confortável em ver meu filho na frente da TV na hora da
novela, mas tinha certeza que o clipe para ele não teria nada demais.
Enquanto
milhões estavam debatendo a perigosa exposição sexual do clipe da música da
Clarice Falcão, outra joia musical de verão, o funk “Deu Onda” e seu refrão
“Meu pau te ama” estão na cabeça de todos os adolescentes e muitas crianças,
pois como não temos pintos e vaginas aparecendo, então ela é legal.
Link para o clipe:
https://vimeo.com/196792830
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