OPINIÃO 072 - Pangeia: Uma reflexão sobre felicidade

Não sei quem é o autor da frase, só sei que já ouvi uma centena de vezes, nas mais diferentes situações. Ouço desde criança e, apesar de já ter entrado na casa dos quarenta, juro que nunca consegui entender completamente seu significado. Apesar de simples, esta sentença de apenas cinco palavrinhas traz em si força e sabedoria, que vão muito além de seu significado literal. Contudo, como sou uma pessoa que tenta encontrar algo de positivo em todas as coisas, nada como uma boa noite de insônia para fazer algumas reflexões que trago através deste pequeno texto. Pequeno, pois afinal de contas, precisaríamos de muitas noites sem sono para falar sobre a frase: “Estamos aqui para sermos felizes".
Ontem uma pessoa que admiro muito me disse que “para sermos felizes com alguém temos que primeiramente aprender a sermos felizes sozinhos”. Cruzando esta informação com a emblemática frase que trouxe no início desta prosa, a perda do sono de um insone foi inevitável, bem como uma enxurrada de ideias e reflexões.
Admiro a autora da frase e reconheço, humildemente, que ela tem um conhecimento sobre o ser humano muito maior que o meu. Principalmente por ser uma pessoa extremamente espiritualizada, coisa que não sou. No entanto, tenho uma dificuldade enorme em aceitar as duas palavras, sozinho e feliz, na mesma frase. E me permito discordar dela.
Somos seres sociais, não somos feitos para viver sozinhos. Organizamos nossas vidas para estarmos próximos uns aos outros, não como ilhas ou arquipélagos. Tendemos, por afinidade, interesses e similaridades, a formar continentes inteiros. E nessa história toda estamos sempre na contramão da deriva continental, tentando sempre voltar a sermos Pangeia.
Somos a única espécie capaz de amar, em todos os tipos de “amor” possível. Amamos nossos pais, filhos, parceiros... Amamos nosso trabalho, hobbies. Amamos um livro e um quadro e um filme... Ou todos juntos! E estes estados de “amar” estão sempre condicionados a algum tipo de reciprocidade. Amamos aquilo que reflete em nós a felicidade. Quando amamos um filho, o fizemos porque há uma troca intensa e imensurável de felicidade. Quando amamos um filme a ponto de chorarmos, mesmo sabendo que é uma ficção, é porque ele chegou a áreas de nossa sensibilidade ligadas à felicidade que em algum momento sentimos; na verdade o filme não nos toca, ele toca em cicatrizes, ou feridas. Mesmo quando amamos alguém e este amor não é correspondido, sofremos porque vemos nesta pessoa um estado de felicidade que buscamos, às vezes durante uma vida inteira, e até então não havíamos encontrado. E é aí, neste momento de paradoxo extremo, que sofremos por uma felicidade vislumbrada, próxima, mas não alcançável. Louco isso, não?
Como visto, amigos, não consigo ligar a palavra FELICIDADE à palavra SOZINHO. Ela está ligada sempre a palavra AMOR. E para que haja amor, é necessário sempre existir, pelo menos, dois. Não existe estado de felicidade maior do que chegar em casa e saber que há alguém disposto a, irrestritamente, nos fazer feliz. Sério! Diz pra mim se, em uma condição dessas, tu não darias o teu máximo para fazer esta pessoa feliz também? Acho que este é o conceito de amor. E de felicidade.
E o amor próprio? Onde fica nessa história? Amor próprio, na minha humilde opinião, é quando estamos tão felizes conosco mesmo, que já estamos prontos para compartilhar esta felicidade com alguém. Aí, somente aí, o amor e a felicidade que sentimos por alguém, deixam de ser uma questão de necessidade, mas de escolha.

Sejamos Pangeia, deixemos as ilhas vagarem, até encontrarem seu próprio continente.

Um grande abraço em todos vocês!





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