OPINIÃO 064 - Professor: O mestre que ensina ou que educa?



Em outubro comemoramos o Dia dos Professores. Como consequência, muitos espaços estarão abertos para reflexões e debates sobre o papel dos mestres, da escola e da educação. Como redes sociais são o lar da filosofia das frases feitas, em breve o Facebook e outras plataformas serão, mais uma vez, uma fonte inesgotável de imagens e textos sobre o assunto. Entre as reflexões mais recorrentes, teremos a eterna discussão sobre o papel educador da escola, trazendo a máxima “a escola ensina enquanto a família educa”. Será mesmo?

Dia destes fui ao aniversário de dez anos do filho de um casal de amigos. Festinha tradicional, com direito a criançada correndo, doces, música e sala de brinquedos. Em determinado momento da festa, quando as crianças se deslocavam do “Parabéns” de volta à sala de brinquedos, um pequeno tumulto se formou na frente da estreita porta que dava acesso à referida sala. Vi o desespero nos olhos da funcionária do salão, como se estivesse prestes a ser devorada por uma horda de pequenos canibais. Foi quando uma voz, vindo de traz da turba, em tom maternal, mas firme, bradou “Atenção, todos! Olhem pra cá!” Seguido de um curioso silêncio, todos viraram tranquilamente e olharam para a mãe do aniversariante que calmamente continuou “A porta vai abrir e vocês vão entrar com calma, um a um, sem se machucar!”. Aos poucos viraram e foram entrando, felizes da vida, sem hematomas ou fraturas.

Professora, é claro! - pensei na hora. A mãe do aniversariante é professora!

O papel educador da escola passa, essencialmente, pelo professor. Querendo ou não, toda vez que um professor pede que o aluno espere sua vez, sente direito ou “tire o lápis da boca, seu relaxado!”, está indo além do seu papel de ensinar e tratando de devolver à sociedade uma pessoa melhor do que recebeu de nós, pais. Isto está em seu DNA de forma tão marcante, que o professor não está, ele é, inclusive fora da sala de aula.  

Esta característica formadora de caráter está cada vez mais nas mãos dos educadores, pois se foi o tempo em que o pai trabalhava suas quarenta horas semanais e a mamãe ficava em casa tomando conta dos pimpolhos. Hoje os pais muitas vezes trabalham até mesmo em casa, durante o jantar. Os preciosos (e raros) minutos para compartilhar com seus filhos acabam não sendo “desperdiçados” com algo tão desinteressante quanto torna-los pessoas melhores. E sobra para quem? O professor, claro. 

O professor assume, mesmo que contra a sua vontade, o papel de pai, mãe e, algumas vezes, até de avós de seus alunos. Aconselha, acolhe e exige. Pune, quando necessário. Muitas vezes o professor passa mais tempo com nossos filhos que nós mesmos, se considerarmos o tempo que, mesmo estando em casa, não podemos atendê-los como mereciam.  Não raro, o professor conhece a verdadeira personalidade de nossos filhos, aquela que ele exibe próximo aos seus iguais e longe dos nossos olhos apaixonadamente cegos. O professor reconhece que seus alunos são humanos e jovens, consequentemente, sabem persuadir, mentir e dissimular. Nós preferimos não ver isto, porque o defeito do filho reflete diretamente no pai, que o imagina (e deseja) à sua imagem e semelhança. Ao mestre corriqueiramente cabe o fardo de ser, ao mesmo tempo, defesa, acusação e juiz. E carrasco, se for o caso. Isto não o deixa feliz, mas faz parte de sua missão. Ele cumpre.

Aos professores o meu agradecimento por ser, em tantas oportunidades, um pai para meu filho, melhor do que eu tenho tido tempo para ser. Por ensiná-los muito além do bê-á-bá e dos números. Por ter que encarar cerca de trinta desafios diários, quando eu me atrapalho com apenas um. Muito obrigados a todos os mestres que passaram por minha vida e que passarão pela vida de meus filhos. Mais do que ensinar, vão educá-los, pois além de todo conhecimento que vão transmitir, ainda vão fazer deles pessoas melhores.





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Comentários

  1. Mai um belo texto. Bonito e oportuno. Muitos são os adjetivos que podem ser usados para tua redação. Fico feliz que tenhamos muitos pais que, assim como tu, sabem reconhecer a importância do papel do professor. Forte abraço deste eterno aprendiz.

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    1. Obrigado, meu amigo. Tu foste um dos tantos professores que passaram por minha vida e me ajudaram a construir a pessoal que sou hoje. Abraço grande!

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  2. Boa, Leandro! Teu texto me fez lembrar a reunião com os pais no primeiro de aula no SF. Eu começava dizendo: " A partir de hoje, durante 4 horas por dia eu vou ser pai, mãe, avô, avó, tio, tia...dos filhos de vocês..." Confirmo então o que escreveste.
    Te considero um mestre, principalmente pela disponibilidade de facilitar os companheiros. Senti isso no SF contigo.
    Parabéns pelo nosso dia e um beijo no Érico e na tua princesinha(esqueci o nome dela, coisa de "véio")

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  3. Obrigado, meu amigo! Quando se fala em professores, educadores... não tem como não ter o amigo como uma grande referência. Um abraço grande!!!

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