OPINIÃO - 043 Brasil, um país que marcha... Para onde mesmo?


Vivemos uma doce democracia. País livre onde negros, sem terra, gays, maconheiros, passageiros de ônibus e até vadias ocupam as ruas para usar esta liberdade e gritar aos quatro cantos seus anseios e angústias. Liberdade e igualdade abrem suas asas sobre nós! Contudo, estamos no Brasil e, desculpem os otimistas, alguém deve estar lucrando alguma coisa com essa festa toda.

No último final de domingo (26/03/2013) tivemos uma manifestação muito legal em Porto Alegre. A Marcha das Vadias levou milhares de pessoas às ruas, a maioria mulheres, que levavam como palavra de ordem principal o FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. Um movimento digno, legítimo e pra lá de necessário. De nada adianta as mulheres terem conquistado os mesmos direitos civis dos homens se não puderem ter os mesmos direitos sociais, de se expressar, vestir ou decidir o que fazer com seu corpo. Inicialmente fiquei meio chocado com o nome da manifestação, ainda mais porque não sabia do que se tratava. Manifestações tem que envolver o choque mesmo, principalmente se vislumbram alguma mudança. São VADIAS porque querem ter os mesmos direitos sociais que os homens já têm, ou seja, as mulheres através desta manifestação querem ser tão VADIAS quanto nós homens nos achamos NORMAIS. Justo.

Mas não é sobre a Marcha das Vadias que escrevo hoje. Não apenas sobre ela. Ao contrário do que pode parecer aos mais jovens, as marchas não surgiram no Brasil nos últimos quatro ou cinco anos. Entre 1983 e 1984 o país redescobria que sair às ruas poderia ser uma arma poderosa, e usou esta premissa para pressionar o fim do já desgastado governo dos ditadores militares. Em 1992 tivemos um grande movimento nas ruas pedindo o impeachment do presidente Collor. Desde então as pessoas se organizam e utilizam as passeatas como espaço para dizer o que querem.

Contudo, quando penso sobre este tipo de movimento, minha reflexão é quanto a validade do mesmo. Minha incredulidade com o político brasileiro é tão grande, que não consigo deixar de pensar que as marchas só acontecem porque eles querem assim.

Meus questionamentos com relação às marchas surgiram logo que comecei a ponderar as ditas “manifestações pela paz”. Isto lá no final da década de 1990 e primeiros anos da década seguinte. Eram muito populares, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, patrocinadas pelo poder público e amplamente acompanhadas pela Rede Globo de Televisão. Pessoas saiam às ruas vestidas de branco, carregando velas ou flores, acompanhadas de artistas que sorriam para as câmeras e exibiam cartazes ou slogans que diziam incisivos “BASTA” para a violência. Ficava esperando o resultado destas exibições no próximo noticiário. Nada de novo. Violência e morte pautavam os noticiários da próxima semana, como se o sangue que escorria da TV fosse um deboche daquelas pessoas que se “fantasiaram” de paz. Os morros continuam sendo propriedade dos traficantes, com suas leis absurdas e tribunais assassinos. Até hoje as velas das passeatas continuam velando corpos de jovens que perdem a vida por causa de uns trocados, um tênis de marca ou simplesmente porque alguém tinha uma arma na mão e se sentiu poderoso demais para temer qualquer consequência. Temos uma guerra civil instaurada no país, onde a droga é a fronteira que divide os lados entre quem atira e quem é atingido. Estamos do lado que leva chumbo.

Me pergunto: Para que servem as marchas? Elas são realmente tão transformadoras quanto se espera que sejam?

Tivemos 242 mortes na tragédia da Boate Kiss e nossa imprensa sensacionalista transformou isto em um espetáculo nefasto, com direito a clipe no Fantástico e cobertura completa das marchas que pediam... pediam o que mesmo? Em 2012 morreram 61 mil pessoas no trânsito brasileiro, enquanto 352 mil ficaram inválidas permanentemente (fonte: http://carroonline.terra.com.br). Vemos pipocar marchas pedindo segurança e paz no trânsito por todo lado. Só não vemos clipes no Fantástico porque o que vende audiência é a morte espetacular instantânea, aquela que desgraça em números maiúsculos em um mesmo evento. Não sei o que as marchas que pedem paz nas estradas têm feito pelo fim da carnificina que ouvimos nos rádios e lemos nos jornais a cada segunda-feira, só sei que não está funcionando. Ou sei... elas vendem jornais, dão audiência e popularizam artistas que estarão nas próximas novelas.

E aí as marchas se seguem. Tivemos as famosas marchas “dos Sem”, mas continuamos vendo cada vez mais gente morando na rua e muito agricultor pequeno que teve sua terra levada pelo Capital mendigando nas favelas. Marchas dos ciclistas, que continuam morrendo porque a bicicleta não vende gasolina e não é um bom veículo para movimentar a economia. Marchas e mais marchas surgem a todo momento. Mas resolvem o quê?

Somos ingenuamente arrogantes para aceitar que realmente “o homem é o lobo do homem”. Só não concordo com Thomas Hobbes quando diz que o homem precisa de um Estado paternalista para não se devorar mutuamente, pois assim vivemos a tempos enquanto o Papai vai assistindo alguns filhos se canabalizarem no canal que quase ninguém assiste, pois a maioria está assistindo a novela. Ou marchando.

Enquanto isto as VADIAS continuarão sendo espancadas e estupradas independente do número de vezes que se pintem e mostrem os seios em público, pois o verdadeiro estuprador aproveita as imagens que nossos sérios veículos de comunicação mostram para masturbar seus egos. O lobo não vai parar de comer ovelhas, por mais que elas andem juntas, porque continuarão sendo lobos.

 
O que falta é legislação séria. Fiscalização efetiva e livre de corrupção. O que não temos é uma capacidade de punir quem merece ser punido, com o rigor que realmente sirva de exemplo. Retire permanentemente a permissão de dirigir de um motorista bêbado que mata ou aleija e outros pensarão duas vezes antes de tomar aquela cervejinha antes de pegar o volante.

Mas como fazer isto em um Brasil que possui 30 partidos políticos (fonte TSE) disputando uma beirinha de tudo que cheira a dinheiro e poder? Talvez fazer uma marcha pedindo a redução do número de partidos? Ou de corruptos?

Acredito que a única marcha que poderá um dia dar resultado no Brasil é a “Marcha dos que não querem mais Marchas”. Porque aí não iria ninguém mesmo.
 
 
 
 
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Comentários

  1. Sem palavras...
    Mas eu ainda acho que cedo ou tarde a Marcha da Maconha vai ser atendida...
    Porque vai movimentar a economia... onde o maconheiro vai pagar um absurdo por uma "carteira" de cigarro de maconha, cheia de impostos, enchendo o bolso dos magnatas usuários do mesmo produto, porém, sem impostos... rsrsrs

    Ainda me lembro, mesmo quando eu nem sabia o que era maconha, já ouvia a mídia mostrando sobre marchas de pessoas pedindo a Legalização... Isso é Brasil!!!

    Então acho que falta pouco para que os maconheiros consigam o que querem.

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    1. Valeu, Pablo. Só para complementar tua informação, segundo a revista Superinteressante a empresa Souza Cruz já registrou a marca Marley. Não precisa dizer mais nada, né? Abraço, mano véio!

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  2. Penso nisso há muito tempo!!! Uma marcha, algo que deveria ser um símbolo de luta importante por algum direito democrático de grande interesse nacional, banalizada e utilizada por qualquer grupo adepto do Coitadismo. Estamos vivendo em uma sociedade coitadista, onde todos se dividem em grupos que se intitulam injustiçados com qualquer coisa e marcam por redes sociais manifestações vazias para aparecerem no Jornal Nacional.

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    1. Perfeito: "Estamos vivendo em uma sociedade coitadista, onde todos se dividem em grupos que se intitulam injustiçados com qualquer coisa e marcam por redes sociais manifestações vazias para aparecerem no Jornal Nacional."

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  3. Vitor Sonnemann28 maio, 2013 22:04

    Caríssimo Leandro, esta é uma dura realidade de nosso Brasil. As tais "marchas" são meramente peças manipuladas para se obter o resultado que os políticos e a mídia quer. Infelizmente a população em sua maioria, estão com os olhos vendados de tal forma que só enxergam o que eles querem. Pode ser que um dia, nós acordaremos desta situação e vamos exigir nossos direitos de cidadãos, os quais são descumpridos descaradamente. O que nos resta é a esperança, de acordar, e ver um Brasil mais humano.

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