OPINIÃO 020 - Lei da Palmada – Quem vai punir quem dá o primeiro tapa?

Em 14/12/2011 a Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade a chamada “Lei da Palmada”. A lei prevê punições para os pais que usarem qualquer tipo de castigo físico a uma criança, de tapinha no bumbum a agressões mais graves. Também prevê multas para quem presenciar o caso de pais que usarem qualquer tipo de punição física. A partir da aprovação, nossos nobres deputados vão decidir se há necessidade de votação em plenário, caso contrário, irá direto à votação no Senado.
Não gostaria de entrar no debate puro e simples sobre a validade ou não de uma palmada no processo de educação de uma criança. Não acredito que uma discussão sobre o assunto possa trazer uma conclusão realmente definitiva tendo em vista todas as faces e nuances que a questão impõe. São 190 milhões de pessoas no Brasil, 50 milhões de famílias onde 60 milhões de brasileiros tem menos de 18 anos. Um país multicultural como o nosso não pode ser analisado como se todos fôssemos realmente iguais, quando na verdade sabemos que não é bem assim. É complicado comparar o reflexo de uma palmada em uma criança que vive em Feliz, no Rio Grande do Sul, com uma que vive no interior de Coité do Nóia, em Alagoas, por exemplo. As disparidades socioculturais são muito grandes para imaginarmos que as consequências sejam sempre iguais.
Contudo, o que me trouxe até aqui é outra reflexão sobre o assunto. Talvez a discussão que faltou, já que o foco que a mídia nos apresenta é a relação da violência física (sic) com o processo de educação. O que me preocupa é que o Congresso Nacional inicia um regime de ingerência onde indiscriminadamente são alvos os 50 milhões de lares brasileiros. Congresso este onde ex-atletas, atores de TV e até um palhaço possuem o mesmo poder de decisão de pessoas que se prepararam durante anos para assumir uma vida pública.
Para termos uma noção da gigantesca falta de sentido em entregarmos passivamente nossas vidas aos políticos corruptos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) o aumento de 1% no número de pessoas com acesso à água e esgoto seria suficiente para reduzir em 6,1% na mortalidade infantil. Isso quer dizer que a cada R$50 mil desviados dos cofres públicos por estes mesmos políticos que elegemos, uma criança morre. Este é o valor da corrupção: uma criança morta a cada R$50 mil que deixa de ser aplicado em saneamento básico para ir parar nas contas dos hipócritas que estão no Congresso.
Conforme o Departamento de Competitividade e Tecnologia (DECOMTEC) da FIESP, se a corrupção no Brasil não estivesse no nível em que está, o número de matriculados nas escolas públicas saltaria de 34,5 milhões para 51 milhões. Na área da saúde, os leitos do SUS aumentariam 89%, que significariam mais 230 mil doentes hospitalizados com dignidade.
Também de acordo com o DECOMTEC, a corrupção no ano de 2008 comprometeu entre 1,38% e 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, algo em torno de R$41,5 bilhões e R$69,1 bilhões.
Concluindo: OS MESMOS POLÍTICOS QUE ELEGEMOS E QUE ESTÃO DECIDINDO QUE UM TAPA EM UMA CRIANÇA PODE RESULTAR EM CADEIA A UM PAI DE FAMÍLIA, SÃO RESPONSÁVEIS PELA MORTE DE MAIS DE MIL CRIANÇAS POR ANO NO BRASIL, GRAÇAS À CORRUPÇÃO.
Para um país que faz piada elegendo um palhaço como seu representante, matar mais crianças através da corrupção do que as piores ditaduras do mundo através das armas mostra nossa falta maturidade para entendermos o que representa a democracia, e o que é realmente necessário fazermos para merecê-la. O tapinha no bumbum que tanto ofende os moralistas não representa absolutamente nada perto deste grande tapa na cara dos brasileiros, chamado CORRUPÇÃO.
Para concluir, um colega do trabalho me disse uma frase que acredito resumir muito bem meu pensamento sobre a Lei da Palmada: “Se estes políticos tivessem levado umas boas palmadas quando eram crianças, talvez não achassem tão normal meter a mão no dinheiro público.”

Um grande abraço e um maravilhoso 2011 para todos nós!

Me segue lá: @Le_Aquecimento

Comentários

  1. Querido Leandro, primeiro agradeço por, mais uma vez, nos presenteares com tuas reflexões, sem o temor de deixares de parecer "politicamente correto". Segundo, lembrá-lo de que não estás só nesta indignação. Mais uma vez o Estado busca interferir num espaço que não lhe pertence, afastando-se de suas atribuições mais elementares. Tal postura equivocada e irresponsável só reforça o sentimento de que o Estado brasileiro é dispensável, pois que incompetente, ineficaz, caro e tomado pela corrupção. Forte abraço e ótimo 2012, apesar do Estado...

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