OPINIÃO 004 - A chegada do Érico

A vida nos prega peças interessantes. Algumas alteram levemente nossa rotina, outras são completamente surpreendentes. Enquanto algumas são tristes, outras têm a capacidade incrível de trazer-nos felicidade nas mais diversas formas. O que aconteceu com a Fabi, minha esposa, e comigo naquele domingo dia 05 de julho de 2009, são daqueles fatos que trazem o máximo que se pode caracterizar como surpresa, e o extremo de felicidade. É sobre isso que gostaria de conversar com vocês hoje.

A história acontece em uma única noite, mas que não tenho como torná-la crível sem trazer alguns elementos do passado, vou começar trazendo algumas informações importantes para o entendimento de vocês.

A Fabi e eu nos casamos em janeiro de 2000, há muito tempo conversávamos sobre quando seria o momento ideal para termos nosso primeiro filho. Em 2009 já fazia três anos que tomamos a decisão de parar com todos contraceptivos. Contudo, infelizmente, descobrimos que sem um longo tratamento não poderíamos ser abençoados com um herdeiro, pois um problema nos ovários da Fabi impedia a ovulação normal. Encaramos este fato como um “contratempo”, e começamos um tratamento que sabíamos ser longo e, talvez, ineficiente. Mas nunca deixamos de acreditar, mesmo com médicos dizendo que a impossibilidade de uma gravidez pudesse ser uma realidade permanente.

Não apenas em função do tratamento, mas também por motivos preventivos, a Fabi fazia exames ginecológicos periódicos. Em maio daquele 2009 fez um exame pré-câncer (que coletou material intra-uterino), onde não foi constatada nenhuma alteração fisiológica. A GINECOLOGISTA NÃO CONSTATOU NENHUMA ALTERAÇÃO FISIOLÓGICA.

Os últimos nove meses haviam sido intensos. Como não havia nada aparente que impedisse, fizemos uma viagem no verão que tomou boa tarde de nossas energias e todas nossas economias, fomos ao Sulfolia onde andamos pulando em volta dos trios elétricos, no final de março fomos ao Beto Carrero e andamos em todas as montanhas-russas, a Fabi assistiu um jogo do seu Grêmio no Olímpico com direito a fazer quatro “avalanches”, em abril fomos a um baile e dançamos toda noite, e por aí vai. Para completar, Fabi fez uso de Subtramina, um medicamento controlado, receitado para quem tem dificuldade para emagrecer, e que pode ser abortivo. Tudo muito natural e acompanhado por especialistas.

Durante as últimas três semanas de junho sentimos que alguma coisa estava estranha com a Fabi, principalmente na região abdominal. A Fabi tentava emagrecer sem sucesso, mas estava de certa forma animada, pois nos últimos nove meses realmente havia perdido alguns quilos, no entanto, nas últimas três semanas sentia certo enrijecimento estranho no abdome e algumas dores "diferentes". E aí aconteceu uma sucessão de coisas difíceis de explicar. Mesmo sem saber direito o que estava fazendo, na quarta-feira (01/07) comprei um exame de gravidez desses que se compra em farmácia, deixei em casa e saí para trabalhar. Até hoje não entendo o que me levou a comprar tal exame, pois não havia qualquer perspectiva de uma gravidez. Ao receber o exame, logicamente, a Fabi ficou furiosa, pois a sensação era de que eu estaria alimentando uma esperança impossível. Lembro até hoje minha resposta antipática: "Tá aí, quer fazer o teste faz, se não quiser bota fora." À noite, enquanto ministrava uma aula na escola onde trabalhava, recebi uma mensagem no meu celular: “Me liga agora!”

A palavra “agora” tem uma força incrível, principalmente depois de quase dez anos de casamento. Liguei e a Fabi me pediu que na volta do trabalho passasse em uma farmácia e comprasse um novo exame, de outra marca, pois aquele "estava estragado". Tinha dado positivo!!! Nem pensei muito... saí da escola meio abobado, passei em outra farmácia e comprei um novo exame, que foi feito na manhã do dia seguinte (02/07) e retornou o mesmo resultado. Foi uma alegria indescritível, pois parecia que nosso sonho antigo finalmente se tornaria realidade. 

Mas havia alguma coisa errada nessa conta...

Começamos a fazer cálculos: se há pouco mais de dois meses uma ginecologista fez um exame invasivo e recolheu material do útero sem constatar gravidez, então ela deveria estar grávida de uns dois meses, três no máximo. Mesmo com toda empolgação, tentamos manter a serenidade até que o resultado do exame de sangue, que foi feito na sexta à tarde (03/07) para pegarmos o resultado na segunda-feira (06/07), trouxesse a confirmação que nos daria pelo menos seis meses de trabalho e preparação para chegada do bebê.

No sábado, dia 04 de julho, tentamos manter a normalidade de nossas vidas. Pela manhã conversamos muito sobre como começaríamos as mudanças na casa, a construção do quarto do bebê, a aquisição de roupas e móveis. Fomos ao cinema à tarde e à noite fomos na casa de minha sogra para comer uma pizza e conversar sobre os exames que fizemos e da expectativa para o resultado que chegaria dois dias depois.

Pouco antes da meia noite de 04 de julho, quando voltamos para casa, nossa vida começou a dar a maior reviravolta do mundo.

A Fabi se preparava para tomar seu banho quando a ouvi gritar e corri para o banheiro. Ela tremia enquanto uma grande quantidade de água escorria por suas pernas. Imediatamente liguei para minha sogra (que é mãe de quatro filhos) e perguntei se aquilo seria normal em uma gestante com, talvez, dois meses de gestação. Ela me alertou que fosse o mais rápido possível até um hospital, pois provavelmente se tratava de um aborto espontâneo. Liguei para meu plano de saúde (ULBRA SAÚDE), que estava falindo e, por isso, não estava atendendo. Me informaram que não havia hospitais próprios, contudo, me recomendaram que a encaminhasse ao Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, pois os atendimentos de emergências obstétricas seriam feitos lá. Levei aproximadamente uns vinte minutos de Esteio até o hospital. 

Quando chegamos ao hospital Fabi foi prontamente atendida. Enquanto fui fazer a documentação para o atendimento, ela foi encaminhada para exames iniciais. Foram os trinta minutos mais longos da minha vida. Após a papelada preenchida subi o mais rápido possível ao Centro Obstétrico no terceiro andar do hospital. Quando cheguei, a imagem foi assustadora.

A Fabi estava deitada em uma maca de uma salinha de exames. Sua expressão, com o rosto branco, os olhos e a boca escancaradas me gelaram. Só então reparei que havia uma enfermeira ao seu lado, e esta olhava para mim e sorria.

Como assim sorria??? - foi meu primeiro pensamento. 

- Por favor, me conta o que está acontecendo com a Fabi.

- Ela está com dois centímetros de dilatação e entrou em trabalho de parto. O bebê vai nascer nesta noite.

- Como assim? Que bebê? Não me esconde nada! Então ela realmente perdeu o bebê e vocês vão retirar o feto morto, é isso?

- Pai, não temos nenhum feto aqui, muito menos morto. Ele está bem vivo, e exames preliminares determinam que tem no mínimo trinta e seis semanas de gestação.

Após essa notícia bomba, que nos trouxe uma mistura de choque e felicidade indescritível, fomos encaminhados à sala de ultrassonografia, onde vi pela primeira vez nosso filho. Infelizmente não pudemos ver o sexo em função da posição em que ele se encontrava, mas já tivemos a primeira informação a respeito de sua saúde, e era positiva.

Com o celular quase sem bateria, avisei minha sogra e meus pais. Mandei uma mensagem meio maluca para meus amigos por SMS. "Como assim" foram as duas palavras que mais ouvi naquela noite.

Passei a noite ao lado de minha esposa, que foi medicada para acalmar. Estávamos com muito medo de alguma má formação do feto e pelo fato de não ter feito qualquer acompanhamento durante a gestação. Sem contar os excessos que cometemos, justamente por acreditarmos que não havia gravidez.

Às oito horas da manhã o obstetra que faria o parto chegou ao hospital e examinou a Fabi. Como não houve qualquer evolução da dilatação, sua sugestão para minimizar o sofrimento e a espera foi a realização da cesariana, o qual concordamos imediatamente.
Às nove horas entramos para o bloco cirúrgico obstétrico. Nove horas e vinte e seis minutos da manhã nasceu o Érico, pequenino com seus 2235 gramas e 45 centímetros, mas saudável e lindo. Entre a chegada ao hospital, quando tivemos a confirmação da gestação, e o nascimento, foram exatamente nove horas. 

Aquela noite foi uma noite realmente impressionante. Ligar para as pessoas de nossa família e convencê-las de que um bebê estava nascendo foi algo realmente estranho. Assim como foi estranho ver o bebê sair do berçário para a sala de recuperação sem ter um par de meias para vestir. Graças a Deus temos muitos amigos, o que garantiu um enxoval completo já na saída da mãe e do bebê para o quarto da maternidade. Havia pelo menos cinquenta pessoas na sala de espera.

Hoje, não nos resta outra coisa senão agradecer a Deus e a todas as pessoas que nos assistiram nesses momentos iniciais do Érico. Sempre achei que uma pessoa não é nada sem amigos, e o nascimento deste anjinho nos mostrou isso. Somos pessoas felizes porque nos amamos, possuímos um filho lindo e temos amigos, muitos amigos.




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Comentários

  1. VIVA O ÉRICO!!!!!!!! LINDÃO!!!!

    Abraços Feio!

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  2. Nossa!!! que maravilha tudo isso. O Erico é um vencedor. bjs Rox

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  3. Linda história!!! Não me canso de ler e escutar!!! Milagre!! bjus.

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  4. Luciana Alves16 maio, 2013 23:01

    Que linda essa historia!!!! Deus eh maravilhoso mesmo!!! Parabens aos Pais!!! Erico eh mt especiial. Abracos

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  5. Eu já tinha escutado esta história em um de nossos treinamentos. Mas sem dúvidas, lendo emociona muito mais. Esse mocinho além de teimoso é muito persistente, não nasceu estreou. Não vai desitir de nada nunca. Iana Peres

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  6. Obrigado, galera!!!! O Érico é o nosso herói, né?

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  7. Parabéns... Amigo linda história...
    Isso tudo é merecimento.

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