OPINIÃO 128 - Resenha crítica do filme "Gran Turismo: de jogador a corredor"

Resenha crítica do filme "Gran Turismo: de jogador a corredor"
Leandro de Araújo

    Curioso como um filme pode falar de forma diferente, com diferentes pessoas...
    Havia assistido sozinho o filme Gran Turismo. Confesso que assisti pela curiosidade, afinal, filmes "baseados em videogames" costumam não ser nem um pouco interessantes. Mas a ideia de ter um filme deste universo e baseado em fatos, me chamou a atenção.
    Adorei o filme. Achei muito bem editado, com uma trilha sonora incrível e uma história muito cativante. Me emocionei mais de uma vez durante a narrativa, que de tão simples, chegava a ser óbvia. Mas isso não diminuiu, pelo menos para mim, o interesse pela história de Jann, o protagonista que tentava se transformar de gamer a piloto de carros de corrida reais.
    Então pensei: obviamente o Érico, meu filho de 14 anos, gamer por excelência, vai amar o filme tanto quanto eu. Arrumei todo cenário para assistirmos, apagando luzes, aumentando o som, criando o clima. Assisti novamente, desta vez com a companhia do meu filho. Surpreendentemente, para mim a experiência foi tão legal quanto da primeira vez.
    Quando o filme terminou, fui todo empolgado perguntar para o Érico o que ele havia achado e a resposta foi um frio "É legal... mas não é isso tudo. Esperava mais." E deu de ombros.
    Confesso que fiquei frustrado com o retorno dele. Esperava que se emocionasse tanto quanto eu, sendo que ele também se emociona facinho com filmes emotivos ou comoventes. Comecei a refletir para descobrir onde eu havia errado em minha expectativa. E não foi tão difícil descobrir o erro.
    O filme tem em seu cerne, nas entrelinhas, o problema de aceitação de um jovem pelo seu pai, de quem ele esperava orgulho e, principalmente, apoio. O piloto, Jann Mardenborough (Archie Madekwe) desafia o mundo pelo seu amor por pilotar, mas a única coisa que espera mais do que ganhar corridas é ter sua escolha aceita pelo pai, que não o entende. O pai, um jogador de futebol aposentado, não compreende a escolha do filho pela pilotagem, sendo que para "chegar lá" não faz outra coisa senão jogar seu simulador Gran Turismo no Playstation. Inclusive, Djimon Hounsou, que faz o pai do Jann, dá uma profundidade incrível a um personagem que, mesmo com pouco tempo de tela, emociona. Djimon é fantástico! Outro destaque do filme é o treinador responsável por transformar o gamer em piloto, o ex-piloto Jack Salter (David Harbour, o Hopper do Stranger Things). Seu personagem é um tutor e tanto para o piloto, promovendo gradativamente a transformação de gamer para piloto, sem nunca tentar assumir o papel de pai. O único personagem que achei realmente fraco foi o de Orlando Bloom, pois seu papel de marqueteiro da Nissan em momento algum disse a que veio na narrativa. Raso como uma poça.
    E aí está a motivação para o filme, um entretenimento simples e, às vezes, ingênuo, ter me tocado emocionalmente de forma tão significativa. Sendo o filme uma busca por aceitação de um jovem que não tinha a atenção ou o crédito do pai, isso fala muito com o pequeno Leandro que ainda mora em mim, mas para o Érico não representa nada. Ele não vivenciou isso. E essa é uma das magias mais legais do cinema, o poder de um mesmo filme falar mensagens diferentes com plateias diferentes. E, percebendo isso, da frustração eu fui à felicidade extrema em questão de minutos... Estou cumprindo de forma bem legal meu papel de pai. Obrigado por me mostrar isso, Gran Turismo!
    Finalmente, recomendo o filme para quem procura uma aventura leve, que não deixa de emocionar os corações que, em algum momento de suas vidas, foram carentes de algum tipo de atenção. E é bem divertido para os gamers também.




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