Um
biscoito de Natal não pode ser de Natal! Porque o Natal não é feito de
biscoito. Ele é de plástico, com peças metálicas e luzes que acendem e apagam e
fazem um barulho irritante.
Para
algo ser feito especificamente para esta data, precisa obrigatoriamente ter
passado pela linha de produção em série de alguma fábrica, embalado em plástico
transparente e estéril, cujas crianças filhas dos que trabalham nestas linhas
de produção não terão como tê-lo, pois seus pais não poderão comprá-lo. Também
é preciso que haja outros milhões exatamente iguais e que estejam presos às
mentes infantis por graça e obra das repetidas chamadas comerciais da TV, que misteriosamente
desaparecerão em janeiro, para voltar somente daqui um ano.
Ora
bolas! Onde já se viu? Dizer que algo é de Natal sendo que não será
exaustivamente usado por algumas horas e depois largado em algum canto até ser
descartado, para que leve alguns milênios até se decompor de verdade? Natalino
mesmo tem que poluir o meio ambiente e gerar discórdia - “Por que o dele é
melhor (mais caro) que o meu? ” E também tem que fazer os pequenos não
entenderem porque algumas crianças ganham do Papai Noel coisas tão legais,
enquanto outras ganham tão pouco. Ou nada.
Para
alguma coisa ser de Natal, ela não pode ter ALMA, ela tem que ter PREÇO. Tem
que gerar impostos para fazer girar a economia do país, mesmo que este país não
seja o nosso. Tem que gerar emprego, mesmo que seja subemprego. Tem que deixar
alguém muito mais rico do que já era, mesmo que às custas dos sonhos ingênuos
de quem vai sacrificar algumas semanas de carne no jantar, para colocar um
sorriso efêmero na boca de seu filho.
Um
Natal moderno tem que ser cercado de objetos que prendam a atenção das pessoas
de maneira que elas não precisem conversar, nem olhar nos olhos uma das outras
sem ser através de uma tela. Tem que ser touch, smart e fazer selfie. Ao mesmo
tempo indestrutível e durável até o lançamento da próxima atualização, que vai
acontecer daqui alguns meses. Tem que ter bateria que dure muito. Ser prateado
ou dourado. E grande! Para ser visto de longe pelas outras pessoas. Tem de
fazer eu me sentir exclusivo, como todos os outros milhões iguais a mim.
Egoístas, ingênuos ou tolos.
As
coisas natalinas não precisam passar de uma geração para outra, como a receita
de um biscoito de Natal. Têm que ser lançamentos! Têm que ter estreia mundial! Ainda
que sejam exatamente iguais à versão do ano passado, apenas com uma “roupa nova”.

No
futuro, em vez da ceia e da comunhão com a família, entregaremos presentes de
Natal através de robôs, ou drones, que levarão os pacotes com uma mensagem de
voz gravada desejando Feliz Natal e finalizando com “Um beijo ou um abraço! ”,
que será apenas parte do protocolo de entrega, pois não saberemos mais o que são um beijo e um abraço. Os comerciais de TV continuarão exibindo mensagens belas
e emocionantes, mas continuarão sendo, assim como são hoje, apenas a moldura
para o verdadeiro retrato natalino: um gigantesco pacote de presente, comprado
em doze vezes no cartão de crédito, com uma linda fita vermelha esvoaçante, que
se será chamado popularmente de O GRANDE ESPÍRITO DO NATAL.
Minha dica para antes que
isso aconteça: abrace forte sua família. Chore com ela se sentir vontade de chorar.
Beije os mais velhos enquanto estiverem por aqui, pois isto será muito mais
significativo do que levar flores e saudade quando não estiverem mais. Principalmente
para ti, que vai dar o beijo. Peça desculpa para seus filhos, por todas as
vezes que tivestes que ser duro com eles. Não se limita a ajudar, sê parceiro. Agradece. Declara amor. Ama!
Fotos de biscoitos artesanais confeccionados por "Tia Iara Biscoitos Decorados"
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