Não pensem que
eu estou louco, ou que bebi alguma coisa forte, depois de ler o título do meu
texto. Simplesmente parei para refletir sobre algumas manifestações das redes
sociais, principalmente das pessoas que exibem, com orgulho, suas crenças (ou
falta delas). E entre religiosos confusos (católicos espíritas e cristãos
devotos de Iemanjá, por exemplo) e ateus fervorosos, vejo pouco pragmatismo em
suas publicações. Contudo, como vivemos em um país de livre manifestação
religiosa, tento aprender (e me divertir, é claro) com alguns testemunhos.
Dentre as
manifestações correntes, as que mais me chamam a atenção são aquelas que servem
para afirmar a condição de ATEU de seus autores. Muitas vezes usam táticas
quase evangelizadoras para “provar” seu desapego ao sagrado. Um paradoxo
curioso, no mínimo.
Na minha
concepção existem três tipos de “ateus”.
O primeiro tipo
é recorrente entre os adolescentes. Observando mais de perto seus argumentos e
convicções, sinto que este tipo de descrente pode ser mais reconhecido por “estar
ateu” do que “ser ateu”. É uma condição de negação social mesmo. Para estar à
parte. Do quê, eu não sei. Morrem de medo em filmes de terror, principalmente
aqueles carregados de espíritos malvados que vêm à noite assombrar suas
vítimas. Deixarão de ser ateus na primeira oportunidade. Ou quando sofrerem a
primeira dor da perda de alguém que amam, pois assim terão certeza de que a
vida desta pessoa amada não foi vivida em vão, que está em um “lugar melhor”.
O segundo tipo
é o MILITANTE. Publica fotos e postagens insistentemente, reforçando sua
condição de descrente. Muitas vezes a obstinação é tão grande, que juro ter a
impressão que estas pessoas estão tentando convencer a si mesmas de seu ateísmo.
Como vendedores que ficam repetindo as qualidades de seu produto o tempo todo,
para que não corram o risco de perder seu cliente, ou mesmo de se tornar
cliente da concorrência. Sente prazer em dizer que é ateu, e orgulha-se disso. É
tão certo de sua descrença que é capaz de desafiar a Deus. Como uma criança
que, ao descobrir a inexistência do Papai Noel, desdenha do velhinho fantasiado
do shopping. Às vezes creio que este tipo de incrédulo só o é porque está a
espera do “chamado divino”. Ele é ateu, mas até que alguém prove o contrário...
E aí tem o
terceiro modelo de ímpio. O que não
consegue acreditar. Este, raramente expõe sua opinião sobre crença ou falta
dela, pois lhe é doloroso não acreditar. Ele tenta, lê, conversa com pessoas
que podem trazer um novo olhar sobre o assunto. No entanto, não é simplesmente o
não querer acreditar que lhe impõe barreias ante o sagrado, mas uma convicção que
vem de dentro para fora. Não foi ensinado ou doutrinado, não teve seus olhos
fechados por ninguém, sequer teve a possibilidade de decidir. Não é motivado
por escolhas. Este tipo de ateu não faz a mínima questão de que os outros também
o sejam, pois entende a religião como uma muleta, que cumpre o papel importante
de servir de apoio para aqueles que precisam dela para ficar de pé. Respeita e pode
até ver beleza na religião, como vê beleza em um quadro, uma música ou um bom
livro. Não acredita em uma “vida após a morte”, e vive angustiado com a possibilidade
do fim, pois não há o conforto da vida eterna, do espírito renascido,
reencarnado. Teme a morte por isso, vive assombrado por ela. Quando não há
alguém com quem conversar, sofre porque não há o consolo da oração.
Não reza. Mas se estiver em um grupo e este der as mãos para rezar um Pai
Nosso, o fará sem problema algum, como quem declama um poema, lê um texto ou
canta uma canção cuja letra lhe é bonita, mas não o representa em absolutamente
nada. Não se sente mal por isso, pois o conceito de pecado não rege suas ações
ou sentimentos. A única vantagem em sua condição é o fato de não viver
assombrado por demônios. Como poderia temer a escuridão se não vê nada de
especial na luz? Não sei se pessoas com este tipo de visão a respeito da religião
são muito comuns, pois não costumam “pregar” seu ateísmo. O fato de não acreditarem
as faz sentirem-se em desvantagem em um mundo onde quase todos querem “ir para
o céu”.
Acreditem ou
não, é triste a vida de alguém que não tem o conforto da fé para aplacar suas
dores, amparar suas quedas ou fazer com que o fim seja apenas uma transição.
Este tipo de ATEU não está, ele é. Mas gostaria de não ser...
Um abraço a todos!
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Saramago seria um ateu de terceiro tipo?
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=QuHARSJW9Ys
Não, Andréia. Saramago sempre foi um propagandista do ateísmo. O terceiro tipo vê a divindade como tu vês o Papai Noel, por exemplo. E tu não sais por aí pregando contra o Bom Velhinho só porque não acredita nele, não é? ABRAÇO!
Excluir"no fundo, o problema não é um Deus que não existe, mas a religião que o proclama. Denuncio as religiões, todas as religiões, por nocivas à Humanidade. São palavras duras, mas há que dizê-las" Saramago
ExcluirEntão... justamente o que disse. Saramago pregava, como Friedrich Nietzsche, todo mal que a Religião causou a sociedade e o quanto a atrasou. Fazia questão de abrir sua opinião sobre o assunto, como um militante. O terceiro tipo de ateu, segundo minha reflexão, não faz propaganda, porque lhe incomoda esta condição, o terceiro tipo vê uma vantagem no "conforto da fé", pois ela prega que não há o fim, apenas a transição. Voltando ao exemplo do "Papai Noel", que acho muito útil neste tipo de analogia, é como se desejássemos muito que o Bom Velhinho existisse e nos presenteasse em todo Natal, apesar de termos certeza que ele não passa de uma fantasia daqueles que ainda não conhecem "a verdade"...
ExcluirEntendo o ponto de vista... Ateus estão no mesmo saco dos Testemunhas de Jeová... "não basta ser, tem que converter".
ResponderExcluirVou citar o meu exemplo... não tenho religião, mas não sou ateu. Por quê?? Em matéria de religiosidade eu não tenho tima, porque não gosto de religião... O cara não precisa SER algo.
Se o cara não gosta de futebol, por exemplo, ele não torce pra ninguém , ao mesmo tempo, ele não precisa ser contra o futebol... apenas se colocar à parte do assunto..
- Tu é colorado ou gremista?
- Não sou nada.
- Como assim?? Então tu torce pro São José? Pro Sapucaiense??
- Não. Não curto futebol, mas nada contra... não tenho time.
Esse diálogo pode ser muito bem aplicado à religiosidade.
Ou seja, na minha humilde opinião, um ateu é um fanático religioso ao contrário....
Querido Leandro. Como sempre, escrevendo muito bem.
ResponderExcluirSobre religião, e já conversamos sobre isso algumas vezes, prefiro falar em fé.
Fé é uma experiência que envolve os sentidos e também a razão, intelecto, etc. É como conhecer alguém, amar esse alguém, e sentir-se mais amado ainda. E sobre essa experiência, concluo que fico sem tudo o que tenho, mas manho a minha fé. Acredito em Deus, em Nossa Senhora e na vida após esta. Das religiões eu sei uma coisa: não adiantam pregações, altares, templos ou sacrifícios se não houver respeito e amor entre as pessoas. Bjs colega. Roxane Miranda