OPINIÃO 016 - Excesso de Informação... Inútil


Toda publicação que aparece falando sobre a relação das crianças e jovens com a tecnologia parece que bebe da mesma fonte. Os autores são consensuais quando dizem que todos já “nascem sabendo”, que o volume de informação que um jovem recebe hoje é muito maior do que em qualquer período histórico. Podem achar estranho o comentário que vou fazer a seguir, principalmente por ser alguém que trabalha com tecnologia e com jovens, mas eu acho que a coisa não é bem assim.
Não há dúvidas de que uma criança hoje domina tecnologias e opera equipamentos eletrônicos muito melhor que seus pais. Mas aí eu me pergunto: Para que serve toda essa carga de informação? No que isto está favorecendo o crescimento e a formação destas crianças?
O pai que acredita estar favorecendo o crescimento do seu filho como pessoa deixando-o aos cuidados do Google e do Wikipédia está imergindo-o em um universo de idéias prontas, de conceitos estabelecidos por terceiros, onde as capacidades de discernimento e tomada de decisão ficam relegados à obtenção da resposta rápida, do volume de informações gigantesco obtido em pouco tempo. A análise, o arbítrio e a qualidade da informação realmente útil não residem nos meios internéticos, sinto muito.
O crescimento não está no acesso a um incontável número de idéias estabelecidas por outras pessoas, mas na possibilidade do jovem apreciar e refletir alguns conceitos mais sólidos do que aqueles apresentados pelos oráculos virtuais.
Temos jovens capazes de administrar três ou quatro contas em Redes Sociais, verdadeiras feras na exploração de ferramentas de busca, pequenos gênios na realização de proezas com seus computadores, mas cuja capacidade de argumentação simplesmente desaparece quando se defronta com papel e caneta ou com um interlocutor à sua frente.
Não! Não pensem que prego o fim do acesso há internet, ao abandono dos computadores em favorecimento das velhas e empoeiradas enciclopédias de papel, do retrocesso nos processos de construção da aprendizagem. A única coisa que gostaria de lembrá-los é de que o diálogo, a transmissão de experiências, o confronto de idéias ainda são mais importantes que qualquer ferramenta digital.
Passamos por um longo período onde as cadeiras de Filosofia e Sociologia estiveram fora dos currículos escolares. O aprendizado tornou-se durante mais de uma década uma coleção de fórmulas, datas e regras. Hoje voltamos nossas escolas ao caminho do raciocínio lógico, da formação de opinião e da construção de lideranças. Princípios tão importantes quanto letras e números, e que não podem ser aprendidos simplesmente ao digitarmos palavras em caixas de busca, à procura de seus conceitos.
Continuemos usando os computadores como ferramentas de aprendizado e comunicação, mas que tecnologia não se torne fator excludente dos principais valores que haviam antes da sua constituição pedagógica. Torço para que nossos jovens argumentem sem “copiar e colar” e descubram o quanto pode ser importante para seus futuros o poder de contestar referências digitais com suas próprias idéias em vez de simplesmente absorver o que já está pronto.


 Leandro de Araújo

@Le_Aquecimento


Comentários

  1. Ótimo,os trabalhos hoje são cópiados e colados verdadeiros(plage).Acho que os professores deveriam exigir trabalhos escritos a mão.

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  2. Excelente reflexão, parabéns! Concordo plenamente: mais importante do que TER informação é saber SELECIONÁ-LA e utilizá-la como fonte de conhecimento.
    Ontem escrevi um post sobre o uso do Orkut e do Facebook como ferramentas para a aprendizagem de inglês. Ficaria feliz em saber o que achaste, já que dominas muito bem o assunto. Aguardo tua visita! Abração!

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