Em
outubro comemoramos o Dia dos Professores. Como consequência, muitos espaços
estarão abertos para reflexões e debates sobre o papel dos mestres, da escola e
da educação. Como redes sociais são o
lar da filosofia das frases feitas,
em breve o Facebook e outras plataformas serão, mais uma vez, uma fonte
inesgotável de imagens e textos sobre o assunto. Entre as reflexões mais
recorrentes, teremos a eterna discussão sobre o papel educador da escola, trazendo
a máxima “a escola ensina enquanto a família educa”. Será mesmo?
Dia destes fui ao aniversário de dez anos do filho de um casal de amigos. Festinha
tradicional, com direito a criançada correndo, doces, música e sala de
brinquedos. Em determinado momento da festa, quando as crianças se deslocavam
do “Parabéns” de volta à sala de brinquedos, um pequeno tumulto se formou na
frente da estreita porta que dava acesso à referida sala. Vi o desespero nos
olhos da funcionária do salão, como se estivesse prestes a ser devorada por uma
horda de pequenos canibais. Foi quando uma voz, vindo de traz da turba, em tom
maternal, mas firme, bradou “Atenção, todos! Olhem pra cá!” Seguido de um
curioso silêncio, todos viraram tranquilamente e olharam para a mãe do aniversariante
que calmamente continuou “A porta vai abrir e vocês vão entrar com calma, um a um, sem
se machucar!”. Aos poucos viraram e foram entrando, felizes da vida, sem hematomas
ou fraturas.
Professora, é claro! - pensei na hora. A mãe do aniversariante é professora!
O
papel educador da escola passa, essencialmente, pelo professor. Querendo ou
não, toda vez que um professor pede que o aluno espere sua vez, sente direito
ou “tire o lápis da boca, seu relaxado!”, está indo além do seu papel de
ensinar e tratando de devolver à sociedade uma pessoa melhor do que recebeu de
nós, pais. Isto está no DNA de sua profissão de forma tão marcante, que o professor não
está, ele é, inclusive fora da sala de aula.
Esta
característica "formadora de caráter" está cada vez mais nas mãos dos educadores,
pois se foi o tempo em que o pai trabalhava suas quarenta horas semanais e a
mamãe ficava em casa tomando conta dos pimpolhos. Hoje os pais muitas vezes
trabalham até mesmo em casa, durante o jantar. Os preciosos (e raros) minutos
para compartilhar com seus filhos acabam não sendo “desperdiçados” com algo tão
desinteressante quanto torná-los pessoas melhores. E sobra para quem? O
professor, claro. O que não significa que o profissional de educação tenha pedido por isso, pois muitas vezes essas broncas caem em seus colos sem que ele tenha a menor chance de negar.
O
professor assume, mesmo que contra a sua vontade, o papel de pai, mãe e,
algumas vezes, até de avós de seus alunos. Aconselha, acolhe e exige. Pune,
quando necessário. Muitas vezes o professor passa mais tempo com nossos filhos
que nós mesmos, se considerarmos o tempo que, mesmo estando em casa, não
podemos atendê-los como necessitam, ou como mereciam. Não
raro, o professor conhece a verdadeira personalidade de nossos filhos, aquela
que ele exibe próximo aos seus iguais e longe dos nossos olhos apaixonadamente cegos.
O professor reconhece que seus alunos são humanos e jovens, consequentemente,
sabem persuadir, mentir e dissimular. Nós preferimos não ver isto, porque o
defeito do filho reflete diretamente na educação que os pais deveriam dar. Esses pais que o imaginam (e desejam) à sua
imagem e semelhança. Ao mestre corriqueiramente cabe o fardo de ser, ao mesmo
tempo, defesa, acusação e juiz. E carrasco, se for o caso. Isto não o deixa
feliz, mas faz parte de sua missão. Ele cumpre.
Aos professores o meu
agradecimento por serem, em tantas oportunidades, um pai para meu filho melhor
do que eu tenho tido tempo para ser. Por ensiná-los muito além do bê-á-bá e dos
números. Por terem que encarar cerca de trinta desafios diários, quando eu me
atrapalho com apenas um. Muito obrigados a todos os mestres que passaram por
minha vida e que passarão pela vida de meus filhos. Mais do que ensinar,
vão educá-los, pois além de todo conhecimento que vão transmitir, ainda vão fazer deles pessoas melhores do que as que nós entregamos a eles.
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Mai um belo texto. Bonito e oportuno. Muitos são os adjetivos que podem ser usados para tua redação. Fico feliz que tenhamos muitos pais que, assim como tu, sabem reconhecer a importância do papel do professor. Forte abraço deste eterno aprendiz.
ResponderExcluirObrigado, meu amigo. Tu foste um dos tantos professores que passaram por minha vida e me ajudaram a construir a pessoal que sou hoje. Abraço grande!
ExcluirBoa, Leandro! Teu texto me fez lembrar a reunião com os pais no primeiro de aula no SF. Eu começava dizendo: " A partir de hoje, durante 4 horas por dia eu vou ser pai, mãe, avô, avó, tio, tia...dos filhos de vocês..." Confirmo então o que escreveste.
ResponderExcluirTe considero um mestre, principalmente pela disponibilidade de facilitar os companheiros. Senti isso no SF contigo.
Parabéns pelo nosso dia e um beijo no Érico e na tua princesinha(esqueci o nome dela, coisa de "véio")
Obrigado, meu amigo! Quando se fala em professores, educadores... não tem como não ter o amigo como uma grande referência. Um abraço grande!!!
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