Há algum tempo tenho falado com pessoas
em entidades tradicionalistas sobre o quanto os grupos juvenis são importantes
para manutenção do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Sempre me questionam se
não deveria deixar para os mirins o título de "mais importantes"
dentro deste movimento, pois são a base. Continuo pensando que não.
Simplesmente pelo motivo de que quem os leva para o CTG são seus pais,
atendendo, normalmente, os anseios dos próprios pais, mais que deles mesmos.
Enquanto isso, os juvenis estão lá porque escolheram permanecer. Sem dúvida
nenhuma a experiência no grupo mirim é determinante para que esta permanência
aconteça. Outra coisa importante é destacar o quanto o papel das
coordenações e instrutores é fundamental para manutenção destes grupos infantis,
tendo em vista que ainda são muito jovens para tomar decisões. O carinho e o
cuidado das "tias" e dos "profes" é fundamental para que
mantenham o interesse nessa atividade que para eles são uma mistura de escola,
esporte e diversão. Exato! Eles aprendem, competem e se divertem. São as
dimensões que os mantêm atraídos e motivados. Se tirar um desses elementos, sua
presença no CTG perde muito sentido. O que é bem diferente com os grupos
juvenis, adultos e veteranos, que podem muito bem permanecer no tradicionalismo
sem um ou dois destes princípios (aprendizado, competitividade ou diversão).
Trabalhar com crianças não é algo
simples. Por isso nem todos os instrutores conseguem "vingar"
nos grupos mirins, independente do seu conhecimento sobre dança ou de sua
capacidade de ensinar. Manter crianças atraídas pela sua fala por um tempo
necessita, antes de qualquer coisa, didática e um mínimo de conhecimento
pedagógico. Os pais precisam estar muito atentos a isto, pois mais importante
que os troféus e conquistas, está o bem-estar de seus tesourinhos. E podem ter
certeza de que um dos principais motivos de dançarinos abandonarem o
tradicionalismo na adolescência passa, e muito, pelo fato de não terem tido uma
experiência boa com seus líderes enquanto estavam na mirim. Independente dos
títulos que tenham conquistado nesta categoria.
Da mesma forma que a presença atenta e
cuidadosa dos pais se faz necessária na escola de seus filhos pequenos, o mesmo
deveria ser uma prática no CTG. Não digo que tenham que assistir os ensaios
(afinal de contas não precisamos entrar na sala de aula na escola deles para
saber o que acontece por lá), mas estando atentos à maneira com que relatam o
que aconteceu no ensaio, se seu comportamento é positivo no que diz respeito a
estar presente nestes momentos, se percebemos que para eles estes encontros são
prazerosos ou se são encarados como uma obrigação desconfortável ou maçante.
Importante também procurar a coordenação do grupo para ver se tudo está bem, se
precisam de alguma coisa. Quando foi a última vez que perguntamos à coordenação
se o grupo de nossos filhos precisa de alguma coisa de nós? Será que apenas
reclamar do fato dele não dançar todas as danças é suficiente? Isso é relevante
para sua evolução como ser humano capaz de lidar com frustrações ou desafios?
Quem sabe trocar a alcunha de "pai da mirim" por apenas
"pai" não seria legal?
Meu sonho, como educador e como
profissional dentro do universo da cultura gaúcha, é ver o dia em que o MTG
pense os grupos mirins e pré-mirins (e os fraldinhas!) mais do que uma base
para os demais grupos, mas como seres humanos em formação no momento mais
importante do seu desenvolvimento cognitivo, social e moral. Os CTGs que
percebem isso trazem para trabalhar com as crianças instrutores e
coordenadoras com didática capaz de mantê-los atraídos pela arte através da
alegria, do prazer e da formação de caráter, muito mais do que pelo anseio de
ganhar prêmios. Isso sim é chamar a mirim de "base", pois é dar às
crianças o alicerce necessário à sua formação humana dentro dos pressupostos
que estão na Carta de Princípios. Os pais que entendem isso celebram o fato dos
filhos estarem desenvolvendo habilidades e competências que os farão seres
humanos melhores, úteis à sociedade em que estão inseridos e mais felizes. Isso
vale mais do qualquer troféu que venham a conquistar em sua vida como tradicionalistas.
Comentários
Postar um comentário