OPINIÃO 129 - Tradicionalismo gaúcho e crianças

Grupo mirim do CTG Corredor Missioneiro, Porto Xavier, RS.

TRADICIONALISMO GAÚCHO E CRIANÇAS
Leandro de Araújo

Há algum tempo tenho falado com pessoas em entidades tradicionalistas sobre o quanto os grupos juvenis são importantes para manutenção do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Sempre me questionam se não deveria deixar para os mirins o título de "mais importantes" dentro deste movimento, pois são a base. Continuo pensando que não. Simplesmente pelo motivo de que quem os leva para o CTG são seus pais, atendendo, normalmente, os anseios dos próprios pais, mais que deles mesmos. Enquanto isso, os juvenis estão lá porque escolheram permanecer. Sem dúvida nenhuma a experiência no grupo mirim é determinante para que esta permanência aconteça.  Outra coisa importante é destacar o quanto o papel das coordenações e instrutores é fundamental para manutenção destes grupos infantis, tendo em vista que ainda são muito jovens para tomar decisões. O carinho e o cuidado das "tias" e dos "profes" é fundamental para que mantenham o interesse nessa atividade que para eles são uma mistura de escola, esporte e diversão. Exato! Eles aprendem, competem e se divertem. São as dimensões que os mantêm atraídos e motivados. Se tirar um desses elementos, sua presença no CTG perde muito sentido. O que é bem diferente com os grupos juvenis, adultos e veteranos, que podem muito bem permanecer no tradicionalismo sem um ou dois destes princípios (aprendizado, competitividade ou diversão).

Trabalhar com crianças não é algo simples. Por isso nem todos os instrutores conseguem "vingar" nos grupos mirins, independente do seu conhecimento sobre dança ou de sua capacidade de ensinar. Manter crianças atraídas pela sua fala por um tempo necessita, antes de qualquer coisa, didática e um mínimo de conhecimento pedagógico. Os pais precisam estar muito atentos a isto, pois mais importante que os troféus e conquistas, está o bem-estar de seus tesourinhos. E podem ter certeza de que um dos principais motivos de dançarinos abandonarem o tradicionalismo na adolescência passa, e muito, pelo fato de não terem tido uma experiência boa com seus líderes enquanto estavam na mirim. Independente dos títulos que tenham conquistado nesta categoria.

Da mesma forma que a presença atenta e cuidadosa dos pais se faz necessária na escola de seus filhos pequenos, o mesmo deveria ser uma prática no CTG. Não digo que tenham que assistir os ensaios (afinal de contas não precisamos entrar na sala de aula na escola deles para saber o que acontece por lá), mas estando atentos à maneira com que relatam o que aconteceu no ensaio, se seu comportamento é positivo no que diz respeito a estar presente nestes momentos, se percebemos que para eles estes encontros são prazerosos ou se são encarados como uma obrigação desconfortável ou maçante. Importante também procurar a coordenação do grupo para ver se tudo está bem, se precisam de alguma coisa. Quando foi a última vez que perguntamos à coordenação se o grupo de nossos filhos precisa de alguma coisa de nós? Será que apenas reclamar do fato dele não dançar todas as danças é suficiente? Isso é relevante para sua evolução como ser humano capaz de lidar com frustrações ou desafios? Quem sabe trocar a alcunha de "pai da mirim" por apenas "pai" não seria legal?

Meu sonho, como educador e como profissional dentro do universo da cultura gaúcha, é ver o dia em que o MTG pense os grupos mirins e pré-mirins (e os fraldinhas!) mais do que uma base para os demais grupos, mas como seres humanos em formação no momento mais importante do seu desenvolvimento cognitivo, social e moral. Os CTGs que percebem isso trazem para trabalhar com as crianças instrutores e coordenadoras com didática capaz de mantê-los atraídos pela arte através da alegria, do prazer e da formação de caráter, muito mais do que pelo anseio de ganhar prêmios. Isso sim é chamar a mirim de "base", pois é dar às crianças o alicerce necessário à sua formação humana dentro dos pressupostos que estão na Carta de Princípios. Os pais que entendem isso celebram o fato dos filhos estarem desenvolvendo habilidades e competências que os farão seres humanos melhores, úteis à sociedade em que estão inseridos e mais felizes. Isso vale mais do qualquer troféu que venham a conquistar em sua vida como tradicionalistas.




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