OPINIÃO 022 - Bebida e direção: QUANTA HIPOCRISIA!






"Segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária, o Brasil registra anualmente cerca de 47 mil mortes no trânsito anualmente. 400 mil não morrem, mas ficam com algum tipo de sequela. O custo destes números para o país é de R$ 56 bilhões/ano. Segundo o Ministério da Saúde, 15,6% das mortes são causadas pela combinação álcool + direção. (Números de 2017)"



Adoro pegar o carro e sair com a família. Para mim isso sempre foi motivo de alegria. No entanto, este sentimento de felicidade tem se confundido cada vez mais com a sensação de medo e insegurança. Talvez esteja ficando velho... não sei. O que acontece é que cada vez tenho achado mais complicado cada deslocamento.
É muito provável que a causa dessa transformação comportamental seja a exposição que a mídia tem feito acerca dos acidentes e mortes no trânsito. Exposição essa que acho justa, afinal de contas estamos realmente vivendo a época de uma guerra velada, não declarada oficialmente, mas que ceifa milhares de vidas a cada ano.  E ninguém me tira da cabeça que os culpados são, única e exclusivamente, os motoristas. Cada vez que saio de casa assisto um festival de imprudências, negligências e arrogância. Sim, ARROGÂNCIA, a capacidade que temos de achar que estamos certos mesmo quando cometemos erros absurdos; a capacidade que temos de não aceitar o fato de não sermos perfeitos.
Uma das campanhas mais fortes expostas pelos canais de comunicação em geral é a respeito da bebida e da direção. A combinação mortal, mesmo (e principalmente) em doses pequenas, nos é apresentada diariamente a partir de todas as direções, da TV à internet; de outdoors às salas de aula de nossos filhos.
Não vou criticar aqui o que bebe e dirige porque ao arrogante não importam as críticas. O arrogante ao ser criticado vai beber mais uma latinha antes de pegar a direção, apenas para mostrar que é melhor do que o critica. De maneira alguma quero fazer parte desse tiro que sai pela culatra.
Contudo, às vezes tenho a sensação de ter superpoderes. De ver além do que pode ser visto, de racionalizar além da inteligência daqueles que são pagos por mim para perceber aquilo que lhes cabe. Sim, porque é só abastecer o carro em qualquer posto de gasolina de minha cidade onde haja uma única mesinha, para ver pessoas bebendo cerveja ao lado de seus carros. Não são casos isolados, é generalizado.
Sou obrigado a entender a lei, para não ser multado e para não expor minha família ao risco, mas não consigo entender que nenhuma autoridade tem poder ou capacidade para entender que um posto de gasolina abarrotado de pessoas bebendo ao lado de seus carros é uma bomba prestes a explodir. Será que serve como argumento dizer que após tomar sua cerveja o motorista vai ficar ali sentado até o álcool ser eliminado por completo de seu organismo?
A maior hipocrisia do mundo é fazer campanhas contra álcool e direção em um país que vende bebidas alcóolicas em postos de combustíveis, e ainda oferece o espaço para seu consumo! Ninguém compra bebidas em lojas de conveniência para beber em casa, para isto os supermercados de grande porte estão abertos sete dias por semana e os serviços de tele-entrega de bebidas funcionam 24 horas por dia, ambos vendem cerveja mais barato que os postos de combustíveis. A bebida oferecida nestes locais é para consumo de quem está ou estará em breve no carro. Que poderosa indústria de dinheiro mesmo é esta dos postos de combustível, que consegue fomentar um número absurdo de mortes a cada noite e mesmo assim continuar funcionando sem que ninguém tenha coragem de tomar qualquer atitude que ponha fim à venda descontrolada de bebidas aos motoristas.
De cá torço de coração que estas pessoas que bebem cheguem vivas em suas casas ao final da festa, que mais nenhuma pessoa inocente seja vítima desta guerra torpe... A quem estou iludindo? Na próxima segunda-feira tenho certeza que mais uma vez vou ouvir, apavorado, a contagem assustadora de mortes no trânsito, enquanto os donos de postos estarão fazendo a contagem do lucro obtido com a venda de cerveja no final de semana em suas lojas de conveniência.
Conveniência... nunca um nome caiu tão bem a um tipo de estabelecimento comercial.


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Comentários

  1. Cara, eu que moro na esquina de um posto em são leo, fico apavorado com a atitude dos condutores. Derrapadas, cavalinhos de pau, aceleradas, motos empinando... sem falar da velocidade que cruzam em frente a minha casa, as vezes me pergunto como que o chegou a determinada velocidade se saiu ali do posto, à 50 metros. Quando passamos em frente ao posto é impressionante a quantidade de pessoas dentro da Conveniência, sem falar das mini garrafas de cerveja que depois de consumido o líquido, são arremessadas no meio da rua ou na calçada, fazendo com que os pedestres tenham que prestar muita atenção ao transitar no local.

    Inconveniência seria a palavra certa.

    Parabéns Leandro pelo blog.
    Continue postando esses artigos interessantes.
    Abraços do amigo Pablo Moraes

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    1. Gracias, meu irmão!

      Seguimos peleando, nem que seja só como cabo!

      Baita abraço!

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  2. Concordo plenamente Leandro! Enquanto as autoridades não se derem conta (acredito que não seja este o caso) de que estas lojas de conveniência, não combinam com os postos de combustíveis, perdem totalmente o foco, dão enfase ao tráfego imprudente e que ao invés de abastecerem seus carros acabam sempre na bebida e boemia, alimentando cada vez mais os acidentes de transito na maioria das vezes sendo eles fatais.

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    1. Oi, Jeanine. Brigadão! Que bom saber que não estou sozinho nesta! Abraço!

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  3. Buenas camarada...sempre leio teus textos e tenho que te parabenizar pela lucidez das tuas "palavras", pena que outros não tenham esta vizão dos fatos, por isso estamos como estamos...

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    1. Gracias, meu brother! Pra mim é uma honra o Amigo como parceiro desta empreitada...

      Aquele churras ainda vai ser feito!!!

      Abraço grande!

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  4. Leandro, compartilho de tua indignação frente às contradições existentes. Por óbvio, não se deseja "inocentar" aquele que bebe, até porque o faz conscientemente. Todavia, é imperioso lembrar que o "deus-mercado", sob o olhar complacente, impotente, incompetente e omisso do Poder Público fomentam esta guerra, ondem são incontáveis e imensuráveis os prejuízos humanos e econômicos. Muitos perdem, enquanto um ínfimo grupo ganha, e muito... Abraço saudoso.

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    1. Grato pela resposta, Gilvan. Pois de maneira alguma inocento o que bebe, ele é tão ou mais responsável quanto o que fornece a bebida especificamente para quem dirige. Mas acredito que este, assim como acontece com quem fuma, assume um risco cosciente da gravidade de sua atitutde, e dentro da arrogância de conhecer o risco e ignorá-lo, de pouco ou nada resolve repreendê-lo com informação, já que a possui e não a usa. Agora, o que fornece, esse se isenta da culpa por acreditar que "eu vendo, bebe quem quer". E nesse pensamento pequeno, medíocre e completamente alheio às outras pessoas, reside a culpa por milhares de pessoas gravemente feridas ou mortas todos os dias.

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